A SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE TESE OU DISSERTAÇÃO
Não deves ter de sacrificar a tua saúde mental para completar uma investigação.
Nesta secção, queremos ajudar a que te prepares para o melhor e te sintas em controlo dessa viagem que é a realização de uma dissertação ou tese, através da desconstrução de mitos comuns acerca da investigação, que podem estar a impactar negativamente o teu bem-estar.
“Por esta altura, já devias ter resultados”
Em virtude de múltiplos fatores, designadamente referentes ao próprio sistema (políticas do laboratório e pressão para produzir resultados para publicação, outros estudantes, académicos, …), é fácil cair na armadilha de que deverias estar mais avançado ou ter melhores resultados, mas o teu projeto é único e foi desenhado para fornecer um contributo original para o conhecimento, pelo que não é possível comparar o seu progresso. A verdade da investigação é que alguns projetos rapidamente produzem resultados e outros só o fazem mais perto do final – isto não significa que um projeto seja melhor do que outro, apenas que são diferentes. É importante, portanto, teres em consideração que a comparação com outras investigações pode minar a tua confiança e que resultados negativos, por exemplo, não são um sinal de fracasso – são evidência. Se alguma coisa não funciona, isso é aprendizagem!
Foca-te no que aprendeste, no desenho do teu projeto (objetivos e metodologia), no porquê de teres escolhido essa área de estudo e fala com o teu supervisor regularmente. Lembra-te que, independentemente dos resultados que produzas, a ansiedade vai sempre tentar dizer-te que eles não são suficientemente bons – desprende-te da voz da ansiedade e confia que, com o teu trabalho, a investigação irá produzir atempadamente os resultados que precisas.
“Tenho de publicar”
Publicar um trabalho é importante e pode ajudar-te a reassegurar que estás no caminho certo, mas, como já vimos, a investigação não acontece de modo linear e o objetivo não é produzir muitos artigos, antes colocar questões, interrogar-te, para que possas contribuir para o conhecimento no final do teu projeto –lembra-te que a comparação com os pares é uma forma enviesada de medires o teu sucesso!
“Tenho de estar sempre a trabalhar!”
Parece óbvio que, quanto mais tempo se despende em algo, mais trabalho será concretizado, mas a verdade é que, à medida que ficas cansado, é mais provável que cometas erros ou falhes assuntos importantes e que a solução de problemas possa levar mais tempo. Acresce que, exceder um tempo de trabalho de cerca de 35 horas semanais, poderá impactar negativamente o teu bem-estar e, se reparares, há sempre momentos em que não estás efetivamente dedicado ao trabalho, mas envolto nalgum tipo de distração. Manter a produtividade ao longo da investigação requer que assegures um bom nível de energia e, para isso, tens de descansar e fazer intervalos! Claro que isto não quer dizer que não precises de trabalhar arduamente, mas a produtividade aumenta geralmente quando se trabalha de forma estruturada e disciplinada, mantendo um horário regular, descansando depois e dormindo bem. Uma boa prática poderá ser, por exemplo, adotares um horário de escritório.
“Estou em dívida com o/a meu/minha orientador/a”
Também é frequente ouvir que os estudantes de dissertação ou tese estão em dívida para com os seus supervisores ou coordenadores de laboratório e devem dedicar muito tempo aos projetos deles, a custo da sua própria investigação e bem-estar. Claro que podes sentir-te grato ao teu supervisor por ter aceitado orientar-te ou pelo seu apoio, mas isso não significa que tenhas de sacrificar o teu bem-estar. Não és obrigado a trabalhar noutros projetos, embora, naturalmente, possas beneficiar de o fazer, desde que não impacte negativamente a tua própria investigação. Se sentes que o trabalho extra está a ter esse impacto negativo, deves estar à vontade para abordar o assunto com o supervisor, clarificando que é algo que não te é possível no momento. Se precisares, também podes falar com a associação de estudantes, ou com a própria faculdade, sem medo de que isso prejudique a tua carreira na academia, se for o caso. A tua saúde e bem-estar é importante e é esperado que a universidade te ajude a mantê-la, bem como a progredires na investigação.
“Sou invisível na comunidade académica/científica”
A ideia de que os estudantes de dissertação ou tese são invisíveis pode estar relacionada, quer com o facto de haver muito menos estudantes nesta condição, quer porque a forma mais autónoma como estudam os podem levar a comparecer menos frequentemente à faculdade. Mas, a verdade é que a tua investigação também ajuda a universidade a definir-se como tal – estás a contribuir para a sustentabilidade financeira da universidade e a ajudá-la a cumprir as suas metas de investigação!
Para reduzir os sentimentos de invisibilidade, conecta-te com outros estudantes de tese, partilha experiências e cria canais formais de comunicação com a universidade – também podes sempre criar raízes informais, tais como conversar com o teu orientador.
“O burnout é inevitável!”
Existe a ideia de que ser estudante de dissertação ou tese significa ter de aceitar que se vai ficar doente mentalmente, o que traz associada uma outra crença, ainda mais prejudicial, que é a de que se não te stressares ou ficares doente, não estás a esforçar-te o suficiente ou a levar a sério o teu trabalho. Mas, não deve aceitar-se que adoecer seja um preço a pagar – é possível fazer uma tese sem ficar doente! De facto, como vimos, bons níveis de bem-estar aumentam a produtividade, a criatividade e a qualidade do trabalho. É que se acreditares que a investigação te põe doente vais tomar mais atenção aos aspetos negativos e adotar comportamentos que aumentam a probabilidade de efetivamente adoeceres. Isto não quer dizer que podes evitar todo o stress através do poder do pensamento positivo – claro que vai haver momentos de dúvida e frustração. Contudo, o que pensas de ti e da tua investigação terá uma influência real na forma como te sentes e no teu desempenho. Autoriza-te a desfrutar da tua investigação, manter o teu bem-estar e cuidar de ti próprio – abraça a ideia de seres um investigador produtivo e criativo, o que irá ajudar-te a tomar decisões mais informadas sobre o que precisas para o bom prosseguimento da tua investigação!
Exercita:
Todas as noites, escreve três coisas boas que aconteceram nesse dia.
Isto ajuda-te a refletir nos aspetos positivos que aconteceram ao longo do dia.
Tenta completar este exercício por uma semana.