Fomos conhecer um dos mais recentes cursos do FEUP L3 na área do Espaço.

Legenda: Sérgio Reis Cunha, docente do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP.
Mobilizar diferentes valências da Engenharia para a construção de satélites de pequenas dimensões. Este é um dos objetivos do curso Introdução à Engenharia de Sistemas de Pequenos Satélites, coordenado por Sérgio Reis Cunha, docente do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (DEEC-FEUP). Depois de arrancar em março, em regime B-learning, reunimos com o responsável para saber mais sobre esta unidade de formação.
Desenhar uma nova aposta
Foi no âmbito das atividades do Work Package 6 da agenda New Space, do Programa de Recuperação e Resiliência, que este curso surgiu. Segundo Sérgio Reis Cunha, “trata-se de uma formação vocacionada para pessoas que estão a começar nesta área – ou que até já tenham alguns conhecimentos. Pretende-se demonstrar que a participação em atividades que levam ao desenho de satélites, ou ao desenho de missões com satélites – em particular, pequenos satélites -, é uma atividade multidisciplinar que envolve um grande esforço da designada Engenharia de Sistemas, que é uma disciplina em que se combinam vários subdomínios da Engenharia para se conceber um sistema complexo”.
Nesta formação serão abordadas as diferentes fases do desenvolvimento de pequenos satélites, os subsistemas e interfaces que os constituem, passando por tópicos como mecânica orbital, órbitas típicas utilizadas por pequenos satélites e as suas implicações, estruturas de satélites, captação, armazenamento e regulação de energia e potência, entre outros. “O objetivo maior é dar a conhecer quais são as principais relações matemáticas e de engenharia que dominam as escolhas a fazer em pequenos satélites”, comenta o docente.
Recetividade ao novo curso
De acordo com Sérgio Reis Cunha, “esta primeira edição – em que participaram nas aulas, de forma ininterrupta, mais de duas dezenas de alunos -, contou com estudantes de mais do que uma licenciatura da faculdade, estudantes de doutoramento da FEUP e outras universidades, e profissionais que já estão no mercado de trabalho – alguns por curiosidade, com interesse nesta área -, e outros que, apesar de trabalharem em áreas acessórias a esta, querem saber mais”.
“Penso que o curso acabou por ficar introdutório – sem deixar de o ser -, com uma abrangência interessante e com alguma profundidade nos pontos que considero chave. Não é um curso só com conceitos, abrange as relações matemáticas que sustentam tudo, tendo havido o cuidado na elaboração dos materiais, para que não existissem dependências de formação de níveis mais avançados. Para minha surpresa, o impacto foi maior do que julgava, e, com a devida divulgação, mais pessoas irá cativar no futuro”, partilha o docente.
Uma necessidade no contexto atual
Segundo o Docente do DEEC-FEUP, “a Engenharia Espacial veio para ficar. A corrida ao espaço é algo que começou, tem tido um crescimento exponencial e assim continuará no futuro. A utilização de informação de satélites tem sido recorrente, as comunicações envolvendo satélites sem que consigamos perceber também está a ser normalizada, assim como a utilização de dados de observação da Terra em tempo real. Infelizmente, o mundo tem caminhado para necessidades de defesa emergentes, mas isso não significa que esta corrida tecnológica ao espaço, que seja passageira – quanto muito, é um acelerador e algo que veio para ficar. E tudo isto significa que muitos mais profissionais vão ser necessários”.
Mas haverá algum conselho para quem quer contribuir para esta mudança?
“É relevante que as pessoas que pretendem triunfar nesta área tenham bastante dedicação a aprofundar conhecimentos de base. A multidisciplinaridade talvez seja a maior característica, trabalhar com pessoas com formações bastante distintas é essencial para o sucesso, porque os desafios são sempre grandes. Há uma necessidade de formação de base muito grande e a profundidade de conhecimentos revela-se essencial”.
No que diz respeito a Portugal, o docente considera que apesar de haver um longo caminho pela frente, o país está a firmar passos positivos. “Estamos a crescer significativamente, a posicionar-nos para podermos vir a estar em pé de igualdade com os outros países da europa. A europa tem o seu papel, tem mecanismos para fortalecer a sua influência e deverá continuar a fazê-lo – todos os países são poucos para conseguir levar para a frente esse trabalho. Há muito para ser feito, e o trabalho nesta área não se faz só dentro das barreiras de um país, da academia ou de uma empresa, mas da colaboração entre instituições e entre países, porque há questões de tamanho para se conseguirem atingir os grandes desafios que estão em cima da mesa. A colaboração é que abre portas para a satisfação destes grandes desafios”, conclui o docente.