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São duas áreas opostas, mas têm um fator em comum: ambas são consideradas emergentes por entidades de referência nos setores em que atuam. Falamos da caracterização de materiais poliméricos e da otimização do diagnóstico de avarias em sistemas industriais, temas de dois dos cursos do novo Centro de Formação ao Longo da Vida – FEUP L3. Estivemos à conversa com Fernão Magalhães e Rui Esteves Araújo, docentes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) para perceber em que consistem estas ofertas formativas e quais as mais-valias que podem trazer a quem esteja interessado nestas áreas.

Da necessidade à oportunidade

Para Rui Esteves Araújo, docente no Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP e responsável pelo curso Diagnóstico de Avarias em Sistemas Ciberfísicos Industriais do FEUP L3, os sistemas industriais – quaisquer que sejam eles – são cada vez mais complexos. “Atualmente, esta complexidade pode ser observada em inúmeros domínios do tecido industrial – desde a área da energia, da ferrovia, etc. -, o que faz com que, perante uma determinada falha, esses sistemas tendam a colapsar de forma cada vez mais catastrófica”, aponta.

Mas para o docente da FEUP há uma solução clara para este problema: apostar na prevenção. “A ideia é fazer com que sistemas ciberfísicos [que envolvem uma componente de hardware e de software, muito utilizados ao nível do chão de fábrica] tenham mecanismos para detetar, recolhendo alguns ‘sintomas’, que estão em modo de falha, mas que ainda não estão em modo de avaria”, introduz Rui Esteves Araújo.

E é aqui que tudo pode mudar. “As formações de base em Engenharia alertam muito pouco para questões de diagnóstico. O feedback que nos passaram das empresas foi que os recém-licenciados não têm grande expertise nesta matéria, porque realmente os planos de estudos não incluem estas temáticas”, avança o docente.

“Neste sentido, há um conjunto de abordagens e de ferramentas transversais que podem ser aplicadas no desenho de um novo sistema industrial – ou até mesmo em algum sistema que já esteja a operar -, para diagnosticar, prevenir e atuar perante a iminência de uma avaria”, avança o docente. É precisamente desta necessidade que surge o curso Diagnóstico de Avarias em Sistemas Ciberfísicos Industriais.

Legenda: Rui Esteves Araújo, docente no Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP e responsável pelo curso Diagnóstico de Avarias em Sistemas Ciberfísicos Industriais do FEUP L3.

Numa área completamente diferente, Fernão Magalhães, docente no Departamento de Engenharia Química e responsável pelo curso Caracterização e Processamento de Materiais Poliméricos do FEUP L3, alerta para a importância de conhecer melhor e caracterizar os materiais que muitas vezes servem de matéria prima para um determinado produto final, como é o caso dos materiais poliméricos. “Especialmente na zona norte do país, existem diferentes tipos de empresas que de alguma forma se relacionam com materiais poliméricos, como tintas, colas, termoplásticos, materiais compósitos, borrachas”, refere o docente.

Exatamente por esta razão, foi criado o curso que aborda estas temáticas. “O objetivo é complementar a formação de quadros técnicos de empresas relacionada com a caracterização físico-mecânica de materiais poliméricos e o processamento desses materiais, com enfase na caracterização reológica e no processamento de polímeros fundidos”, adianta Fernão Magalhães.

“Acreditamos que estes conhecimentos de base, que pretendemos fornecer ou consolidar no curso, sejam úteis para as pessoas que trabalham nessas empresas e que não tenham essa formação de base, que não a tenham muito completa, ou que gostariam de a atualizar, recordando esses conceitos”, remata o docente.

Aprofundar conhecimentos em áreas-chave

Segundo Fernão Magalhães, o curso será lecionado de forma a que os formandos possam compreender a aplicação dos conceitos. “Vamos tentar abordar estas questões num ponto de vista prático-tecnológico, para que seja percetível a sua aplicabilidade e o seu significado prático, de modo a que quem trabalha no seu dia a dia com estes materiais possa aplicar estes conceitos e compreenda a sua relação com os fenómenos com que lida no dia a dia”, afirma.

“Esta unidade de formação é constituída por dois módulos, tratando o primeiro da caracterização físico-mecânica de polímeros sólidos. Começamos por abordar os aspetos particulares da química-física dos polímeros, que fazem com que eles tenham propriedades distintas de outros materiais (como metais, cerâmicos, entre outros). Posteriormente, serão desenvolvidos tópicos como a morfologia, cristalinidade, transições térmicas e a forma como tudo isto afeta o desempenho físico-mecânico dos materiais poliméricos (sólidos). O segundo módulo tem a ver com a caracterização e o processamento de polímeros em solução/fundidos”, explica o docente do Departamento de Engenharia Química.

Legenda: Fernão Magalhães, docente no Departamento de Engenharia Química e responsável pelo curso Caracterização e Processamento de Materiais Poliméricos do FEUP L3.

Para Rui Esteves Araújo, é importante que os formandos possam compreender a base conceptual associada ao tema abordado, para que, em seguida, o possam aplicar em casos práticos. “O curso foi estruturado indo mesmo à base de tudo. Falaremos de nomenclatura, dos modelos que poderemos usar para estudar os impactos das falhas e os moldes de avaria. Depois, também serão abordadas algumas técnicas já avançadas, assentes em exemplos práticos que ajudem a perceber os conceitos”, comenta o docente.

“A minha intenção é que os formandos façam algum trabalho em equipa após o contacto. Depois da partilha dos conceitos-base, há um interregno para trabalho autónomo, em que lhes é lançado um desafio. As sessões seguintes servirão para auxiliá-los na conclusão dessa componente prática, para que vejam mesmo a operação e a utilização das ferramentas. Este não é, de todo, um curso teórico”, alerta o responsável pelo curso.

Formação desenhada “à medida”

Segundo Fernão Magalhães, com o curso Caracterização e Processamento de Materiais Poliméricos pretende-se “que o desafio seja fazer com que a comunicação seja acessível a um público que à partida terá diferentes tipos de formação e, portanto, garantirmos que conseguimos chegar a todos. Acreditamos que a interação com os formandos nos permitirá ir calibrando ao longo do curso o nível de exigência, a forma como ensinamos os conteúdos e interagimos com eles”, refere.

Para Rui Esteves Araújo, as ambições do curso de que é responsável são também evidentes. “Espero deixar nos formandos uma boa base sobre diagnóstico de um ponto de vista conceptual, e mostrar que se efetivamente quiserem avançar com essas ações concretas nos seus sistemas, já têm um bom background para ficarem autónomos”.

“Se houver adesão, poderá haver a possibilidade de se criar uma segunda edição, mais avançada, para aprofundar ainda mais os conhecimentos nesta área. Quem sabe ajustar a formação em função dos problemas que os formandos apresentarem”, conclui.

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Todas as informações sobre os cursos do L3 – Centro de Formação ao Longo da Vida podem ser encontradas no respetivo site oficial, aqui.

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