No rescaldo dos Jogos Olímpicos de Paris, fomos conhecer melhor os dois atletas Olímpicos, que representaram o nosso país ao mais alto nível, na competição. O que poucos sabem é que tanto Ana Catarina Monteiro como Diogo Costa estudaram também na FEUP, ainda que não tenham concluído os respectivos cursos. Representar Portugal ao mais alto nível foi um sonho tornado realidade, em modalidades exigentes como a natação e a vela, mas como se concilia a alta competição e tudo o resto?
Ana Catarina começou a nadar aos 2 anos e aos 7 integrou a pré-competição no Clube Fluvial Vilacondense, que ainda hoje representa. Quando chegou a altura de ingressar no Ensino Superior, confessa que “a Bioengenharia foi uma escolha muito segura. Sabia que gostava de investigação, na área da oncologia por um lado e medicina desportiva por outro. Desde essa fase a minha vida foi dando algumas voltas, neste momento não penso em trabalhar na área, mas sinto que foi uma grande mais valia na minha formação.”
Já Diogo Costa pratica vela desde criança, o seu desporto de eleição, apesar de também gostar muito de correr e de jogar futebol.
“Sempre quis Engenharia Informática. Acabei por entrar em Civil porque não consegui entrar em Informática, mas acabando o primeiro ano fiz a transferência de um para o outro. Pensando hoje em dia não sei se terá sido a melhor opção, mas era mesmo o que eu gostava na altura”, confessa o atleta.
Ser desportista de alta competição e estudante de engenharia requer muito tempo e dedicação.
Ana Catarina diz que foi procurando as estratégias que melhor resultavam para si. “Foi sempre uma questão de definir prioridades, para cada momento. Aprendi a gerir o meu tempo e aproveitá-lo da melhor forma. Olho para trás e fico feliz com as opções que tomei” afirma a nadadora.
Diogo recorda que “a vela obriga-nos a passar muito tempo fora de casa. Isso faz com que faltemos a muitas aulas e seja muito difícil seguir a matéria dada pelos professores. Em Civil tive a sorte de ter um bom grupo de amigos que me ajudavam muito e me passavam os apontamentos deles. Em Informática nunca consegui encontrar um grupo desse gênero. Daí a minha ideia que talvez a troca não tenha sido acertada.”
Ana Catarina foi até hoje a única mulher portuguesa numa meia-final de natação em Jogos Olímpicos, nos 200m mariposa de Tóquio2020, ficando em 11º lugar, um marco do qual tem muito orgulho: “fui a primeira mulher na história a chegar a uma semi-final nos Jogos Olímpicos, e por isso é sem dúvida um dos maiores feitos da minha carreira. Mas são muitos os momentos que guardo na memória, e que me definiram como atleta e pessoa. Representar Portugal a esse nível é um orgulho imenso, poder levar o nome do nosso país a grandes palcos, entre os melhores do mundo faz-nos de alguma forma sentir especiais.”
Já Diogo foi campeão do Mundo em 2016 e vice-campeão do Mundo em 2021, representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, ao lado do irmão Pedro Costa, estudante de Engenharia Civil da FEUP. E este ano, aos 26 anos, cumpriu o objetivo que tinha para os segundos Jogos Olímpicos da carreira. Ficou em 5º lugar em Paris na competição da classe 470 (Vela) mista, que descreve como “incrível, não há muitas palavras que possam descrever este tipo de sentimentos. É ótimo estar lá claro, mas ter um bom resultado é ainda melhor e faz-me sentir ainda mais realizado. Honestamente não consigo ter muitas palavras para descrever.”
Ana Catarina é atualmente vereadora da Câmara Municipal de Vila do Conde com os pelouros da Defesa do Consumidor, Juventude e Relações Internacionais, longe das piscinas que marcaram a sua rotina, enveredou agora por uma carreira que abraçou com “muito trabalho e desafios. Foi assim que encarei desde o início. Tem sido uma aprendizagem constante, e trabalhamos todos os dias em prol do nosso concelho, de procurar as melhores condições e dar resposta às diferentes necessidades.”
Despediu-se das piscinas este ano, aos 30 anos, após uma carreira de grande destaque. São seus o recorde nacional dos 200m mariposa, fixado nos 2m08,03s, e duas medalhas de prata em duas edições diferentes dos Jogos do Mediterrâneo, tendo sido quinta classificada na sua distância predileta nos Europeus Glasgow2018. Apesar de não pensar em fazer carreira na área em que estudou, Ana Catarina Monteiro recorda que “ser-se estudante universitário traz vivências e experiências únicas. O período que passei na FEUP fez-me crescer, aprender e desafiar.”
Já Diogo Costa está longe de deixar a vela. Com 27 anos, “os objetivos são claros: ser líderes mundiais durante os próximos anos e treinar para atacar uma medalha em Los Angeles, em 2028”. No momento, pela dedicação que tem à prática desportiva, não pensa voltar à Engenharia até porque “qualquer Engenharia é muito difícil, não faria sentido eu voltar a tentar se não estivesse mais presente nas aulas porque também não acredito que seja bom fazer o curso só por fazer e não aprender nada com ele. Mas não fecho a porta da FEUP, continuo a gostar muito de informática”, afiança o velejador.