
Fernando Martins, coordenador do curso Simulação e Técnicas de Análise de Dados de Processos e docente no Departamento de Engenharia Química e Biológica da FEUP.
Aliar ferramentas digitais à otimização de processos industriais. Este é um dos grandes objetivos do curso “Simulação e Técnicas de Análise de Dados de Processos”, lecionado e coordenado por Fernando Martins, docente no Departamento de Engenharia Química e Biológica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Arranca no início de maio, em regime B-learning, e procurámos perceber como foi estruturado e qual a sua relevância para a indústria.
Os primeiros passos
Tudo começou com uma reflexão: há cada vez mais dados disponíveis para tratamento, análise e utilização na melhoria de processos químicos utilizados em diferentes contextos. Segundo o docente-coordenador desta unidade de formação, “no caso da Engenharia Química, uma vez que é uma área com algumas particularidades, trabalhar esses dados torna-se desafiante. Há pessoas com uma formação muito desenvolvida nas áreas da informática e da inteligência artificial, mas há um problema: não conseguem fazer a ponte com as bases dos processos químicos”.
E foi precisamente com a ambição de criar “pontes” entre estes dois universos – o da Engenharia Química e o da Informática – que a formação foi desenhada. “O curso tem duas componentes: uma de análise de dados de processos, onde é abordada a utilização de algumas ferramentas de inteligência artificial, como machine learning; e outra que tem a ver com a utilização de simuladores de processos – programas que conseguem modelar e simular fábricas”, explica Fernando Martins.
“Estes são tópicos com bastante relevância para o setor químico e afim, porque dão a conhecer um conjunto de metodologias e ferramentas que os engenheiros podem utilizar de modo a aproveitarem os dados acumulados ao longo do tempo para gerar informação útil na melhoria do desempenho dos processos – até porque os dados são uma espécie de novo crude, que tem de ser refinado para ser utilizado. Por outro lado, este conhecimento permitirá também, numa fase de projeto e da sua monitorização, ter modelos de operações que podem utilizar”, complementa.
Segundo o docente-coordenador, “a utilização de uma maior quantidade de dados para a otimização de processos vai acabar por impactar a redução da energia utilizada, melhorar a eficiência energética, e, consequentemente, reduzir a emissão de gases prejudiciais. Com esta formação, queremos mostrar aos engenheiros químicos que é possível, hoje em dia, trabalharem com ferramentas que estão disponíveis para fazerem tratamento de dados e obterem processos mais otimizados, reduzirem consumos de energia e essencialmente trabalharem no campo da sustentabilidade”.
Uma necessidade validada pela indústria
Para Paulo Gomes, gestor da equipa de Data Science e Analytics da BA GLASS, empresa parceira na criação desta unidade de formação, “o curso vai contribuir diretamente para os desafios enfrentados pela indústria. Com o conhecimento adquirido no mesmo, a empresa pode beneficiar da aplicação de modelização, simulação e métodos de machine learning para otimizar o consumo de recursos e reduzir desperdícios”.
“A BA Glass é líder na produção de embalagens de vidro e enfrenta, atualmente, desafios significativos relacionados com a descarbonização e a transformação digital. Para combatermos isso, temos implementado tecnologias avançadas na gestão da manutenção e análise de parâmetros de produção, com recurso a sistemas inteligentes de feedback contínuo e que funcionam em regime automático – com pouca, ou nenhuma, intervenção humana. Neste contexto, este curso da FEUP reveste-se de particular relevância”, partilha Paulo Gomes.
De acordo com Fernando Martins, para que todos os objetivos sejam cumpridos, a estratégia adotada nesta formação vai muito além da transmissão do conhecimento. “Vamos pedir ao formandos que tragam os seus problemas reais, que os resolvam à luz do que aprenderam, e apresentem os seus resultados num projeto final. A ideia é que se trabalhe com problemas concretos, para que consigam aplicar o que aprenderam à sua realidade. Desta forma, vão poder não só verificar a utilidade e a aplicabilidade das informações que estão a ser abordadas, como também utilizá-las nos problemas e desafios do seu dia-a-dia”.
Trabalhar num futuro melhor
Segundo o docente-coordenador do curso, “deve-se estudar, cada vez mais, os problemas de uma forma mais abrangente – essencialmente porque, hoje em dia, existem variáveis que há 10 anos atrás não eram tidas em consideração. Por exemplo, a energia estava ‘sempre’ disponível e as emissões não assumiam o papel que têm hoje. Neste sentido, com a adoção de medidas de menor custo e que aproveitem ao máximo os recursos disponíveis, os profissionais destas áreas, desde que devidamente formados, podem conseguir melhorar muito o rendimento energético da indústria”.
Visão corroborada pelo gestor da equipa de Data Science e Analytics da empresa parceira. “A participação de colaboradores da BA Glass neste curso pode ser altamente benéfica, pois permite que adquiram competências essenciais para a implementação eficaz de tecnologias da Indústria 4.0, para a otimização de processos visando a sustentabilidade, as eficiências energética e de matérias primas. Estas competências são fundamentais para a empresa alcançar os seus objetivos a médio e longo prazo, e para se manter competitiva num mercado em rápida evolução tecnológica”, conclui Paulo Gomes.