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É uma das principais organizações europeias em matéria de estruturas e acaba de atribuir o Prémio “Young Tunneller of the Year” a Cláudio Cabral Dias, alumni FEUP, a residir em Madrid. É diretor do Departamento de Engenharia e Terreno na AYESA e em 2022 tinha sido já nomeado para a lista “35 under 35” que anualmente identifica os 35 engenheiros e arquitetos com as carreiras mais promissoras em Espanha. Estivemos à conversa com Cláudio Cabral Dias, que terminou o Mestrado Integrado em Engenharia Civil em 2011, para tentar saber de que forma a passagem pelo Brasil e Reino Unido influenciaram a sua carreira e que expectativas é que se abriram com a atribuição deste prémio em Madrid.              

Como foi o teu percurso até chegares à FEUP?

Sou natural de Chãs de Tavares, uma aldeia na Beira Alta, perto de Mangualde. É um lugar muito bonito nas montanhas, onde tive uma infância rodeado de natureza, amigos e família. O meu pai, Alfredo Dias, é um mestre construtor e muito envolvido em apoiar a nossa comunidade e eu costumava passar as minhas férias escolares a trabalhar com ele, o que me fez interessar pela construção desde muito jovem. Além disso, sempre gostei de Legos, o que imagino que também tenha algo a ver com o meu interesse pela construção. A escolha da FEUP foi algo natural, além da sua ótima reputação, tenho familiares que estudaram lá e me deram boas referências. Após concluir o liceu em Mangualde, entrei na FEUP em 2006 no Mestrado Integrado em Engenharia Civil (MIEC), o qual concluí em 2011.

Como descreves o teu caminho na FEUP?

Os primeiros dois anos do curso foram um pouco confusos, pois estava à espera de disciplinas mais práticas de engenharia e construção, e em vez disso começámos com matérias mais teóricas e introdutórias, como tem que ser para criar uma boa fundação. A partir do terceiro ano, começaram as disciplinas práticas de engenharia civil e confirmei que estava no curso certo.

Gostaria de mencionar os bons professores que marcaram as minhas escolhas académicas. Os docentes do Departamento de Engenharia Civil que mais me motivaram foram os Professores Manuel Matos Fernandes, Viana da Fonseca e António Topa Gomes. Os 3 são pessoas e educadores incríveis que me levaram a escolher a especialização em Geotecnia, uma área pela qual me apaixonei e a qual tem marcado o meu trajeto profissional.

Para além da excelente qualidade do ensino da FEUP, tive também várias oportunidades extra-curriculares que completaram a minha formação. Destaco o facto de ter sido membro da Erasmus Student Network (ESN) e de ter feito um estágio de verão na Polónia em 2010 com a IAESTE. Também fiz o programa de Erasmus em Barcelona em 2011. O contacto com diferentes culturas e o facto de ter trabalhado e estudado com colegas de outros países levou a interessar-me pela possibilidade de seguir uma carreira internacional.

Não posso deixar de referir os amigos que partilharam o meu percurso na FEUP e que ficam para sempre nas boas memórias dos 5 anos do MIEC, muitos deles continuam presentes nos momentos marcantes da minha vida profissional e pessoal.

 

Depois da FEUP, como foi o teu percurso até aos dias de hoje?

Após terminar o Mestrado Integrado em Engenharia Civil, tive dificuldades em encontrar um emprego, pois estávamos em 2011 e com uma grave crise económica em Portugal e grande parte da Europa. Vários dos meus colegas tiveram de deixar o país para encontrar trabalho. Após alguns meses de entrevistas, recebi uma oferta de emprego no Brasil numa empresa de projeto em São Paulo. Em dezembro de 2011 mudei-me para o Brasil como Engenheiro Geotécnico.

Estive cerca de três anos em São Paulo, onde fiz bons amigos e conheci a minha mulher, a Nathália. No Brasil, trabalhei em vários projetos fascinantes, como a Linha 4 do Metro de São Paulo, Linha 4S do Metro do Rio de Janeiro e a extensão do Metro de Brasília.

Em 2014, aceitei uma oferta de trabalho na CH2M como Engenheiro de Túneis em Londres, onde vivi durante cerca de 6 anos e participei em alguns dos maiores projetos de infra-estrutura a nível mundial, como a Elizabeth Line, a estação de energia nuclear Hinkley Point C e a linha ferroviária High Speed 2. No projeto do High Speed 2 estive mais de dois anos com o cargo de coordenador de projeto de túneis para um consórcio que incluía as empresas TYPSA, ARUP e STRABAG.

O que mais gostei da minha experiência em Londres foi a oferta cultural da cidade e o seu ambiente internacional. Em relação à experiência profissional, aprendi muito com as equipas multidisciplinares e internacionais que me estimularam a procurar soluções mais eficientes, sustentáveis e inovadoras. Destaco também o equilíbrio que a cultura inglesa proporciona entre a vida profissional e pessoal.

Em Janeiro de 2021, aceitei o desafio de me mudar para Madrid a convite da Ayesa, uma empresa espanhola de projetos e tecnologias. Atualmente, sou o Diretor do Departamento de Engenharia do Terreno, sendo responsável da equipa de projeto com cerca de 30 geólogos, modeladores e engenheiros.

 

Ter trabalhado e vivido em 4 países permitiu-me um bom relacionamento com diversas organizações de engenharia, como é o caso de sociedades de túneis do Reino Unido (BTS), Brasil (CBT), Portugal (CPT) e Espanha (AETOS), entre outras. Estou muito feliz por ter colaborado em várias apresentações com estas organizações e por ter participado em várias artigos e conferências internacionais, como é o caso dos dois últimos congressos mundiais de túneis, realizados em Copenhaga e na Grécia. 

Há três anos, comecei também a dar cursos online para engenheiros e arquitetos, que desejam especializar-se na área de projeto de túneis, e é uma experiência que estou a achar muito interessante e motivadora.

 

Já tinhas sido nomeado para os ITA-AITES Awards em 2022, mas na altura não venceste. Este ano, quando foste nomeado na categoria “Young Tunneller of the Year 2023”, esperavas ganhar?

Já tinha sido nomeado em 2022 mas é sempre uma surpresa muito agradável receber essa nomeação, especialmente porque estou a competir com jovens engenheiros com carreiras muito competitivas e internacionais, que trabalham em projetos de vanguarda e representam grandes organizações e países, pelo que não tinha a certeza de poder ganhar. Este ano foram nomeados colegas da Austrália, Itália e Reino Unido. Mesmo depois de ouvir o meu nome, foi difícil processar que tinha realmente ganho, mas é claro que foi uma sensação extraordinária receber o prémio.

Em que é que consiste este prémio?

Os prémios ITA Tunnelling Awards identificam e distinguem as principais inovações disruptivas, projetos pioneiros e carreiras de destaque a nível mundial. Os prémios são reconhecidos como os “Óscares” da indústria dos túneis e nos quais se recebe um Troféu do busto em bronze de Isambard Kingdom Brunel, reconhecido como o “pai” da indústria de túneis moderna.

 

Como engenheiro civil, o que significa para ti receberes este prémio?

É uma honra e um privilégio receber um prémio tão notável. Em primeiro lugar, reconhece a minha carreira até ao momento dedicada à projeção e promoção de túneis em todo o mundo.

Mas, acima de tudo, como engenheiros civis, queremos melhorar a vida das comunidades através da conceção e construção de infra-estruturas de qualidade que contribuam para melhorar a qualidade de vida e o progresso das pessoas. Assim, este prémio da ITA reconhece a minha contribuição para a indústria e deixa-me muito feliz e motivado para continuar a propor inovações e melhorias nos projetos de túneis e obras subterrâneas em que participo.

 

De que forma é que sentes que a FEUP marcou a tua trajetória profissional?

A FEUP deu-me uma excelente formação, oportunidades extracurriculares e de intercâmbio ao nível da IAESTE e Erasmus. A qualidade da formação e do apoio dado pelos professores fez com que me sentisse sempre confiante na resolução de qualquer problema ou novo desafio que surja diariamente para qualquer engenheiro. Este facto foi determinante no meu percurso profissional, pois nunca tive medo de enfrentar novos desafios e problemas. As oportunidades extracurriculares e de Erasmus permitiram-me desenvolver várias competências transversais, as também chamadas “soft skills”, que são decisivas para crescer em termos de gestão de equipas, projetos e relações com os clientes.

 

Que expectativas tens para o futuro?

Defino-me como um otimista, por isso penso sempre que o melhor ainda está para vir. Gostaria de poder continuar a contribuir ao mais alto nível para o desenvolvimento de projetos que melhorem a qualidade de vida e o progresso das nossas comunidades. Depois de trabalhar fora de Portugal durante tantos anos, estou feliz por estar atualmente a desenvolver vários projetos para a Metro do Porto e a apoiar o progresso da nossa querida região do Porto.

Os engenheiros nunca estão satisfeitos porque há sempre algo a melhorar ou a desenvolver. Os problemas atuais centram-se na forma de tornar a construção em geral mais sustentável e mais resistente aos efeitos das alterações climáticas. Sinto que posso contribuir mais, mas ainda não sei como. Talvez o meu futuro passe também pelo ensino, que é algo de que estou a gostar muito, e quem sabe se isso levará a um regresso à FEUP.

Podes saber mais acerca das duas distinções aqui:

https://www.madridwcc.com/mwcc-y-global-shapers-madrid-hub-entrega-los-diplomas-de-la-ii-edicion-35-under-35/

https://awards.ita-aites.org/

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