Sistemas de Informação para a Construção:Aplicações à Medida

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Adaptado a partir de[1].

Aplicações “à medida”

Aspectos gerais

Este tipo de solução não pode, obviamente, ser classificada como uma categoria particular de sistemas de informação, mas é incluída na lista de “Vectores de desenvolvimento” pelas vantagens que oferece. Com efeito, os produtos desta categoria partilham poucas características para além das seguintes:

  1. Aptidão para automatizar os processos de trabalho das empresas, evitando os inconvenientes próprios de algumas aplicações comerciais correntes, que tendem a homogeneizar práticas, eliminando potenciais vantagens competitivas que as empresas possam deter.
  2. Possibilidade de serem desenvolvidas, com relativamente poucos recursos, no interior das organizações onde serão aplicadas.

As aplicações “à medida” são aquelas que são desenvolvidas ou adaptadas usando os recursos da organização, em particular o seu hardware, software e técnicos informáticos. Admite-se, pois, que sejam a forma mais simples de preservar os processos que possam conferir a uma organização algum tipo de vantagem competitiva, dado que são desenvolvidas atendendo às características específicas da empresa, permitindo ainda automatizar, total ou parcialmente, algumas das tarefas a realizar. Nessa medida, as aplicações desenvolvidas no interior da organização surgem como uma solução evolutiva relativamente às práticas correntes, não como uma revolução nos métodos de trabalho, ao contrário do que sucede com as tecnologias ERP ou BIM.

Este tipo de solução tem-se tornado cada vez mais interessante à medida que o acesso aos recursos referidos se tem tornado mais fácil e barato. Com efeito, é hoje possível desenvolver aplicações cliente-servidor baseadas na Internet usando hardware simples, software barato ou até gratuito e recursos humanos limitados.

A possibilidade oferecida por um número crescente de aplicações informáticas de automatizar as suas funções, isto é, de permitir o acesso às suas funções internas a partir de aplicações externas, facilita a conversão de procedimentos pretendida. É assim possível manter as operações a realizar nas aplicações comerciais habitualmente usadas mas automatizar a entrada de dados ou a divulgação de resultados produzidos, por exemplo.

Arquitectura three-tier

Os sistemas de informação baseados na Internet, considerados ajustados às necessidades do sector da construção (como acontece, por exemplo, com os sistemas ERP), podem ser enquadrados frequentemente na arquitectura three-tier (três camadas) ou multi-tier. Este tipo de arquitectura é caracterizado, muito sucintamente, pela introdução de uma camada adicional (ou mais, no caso da arquitectura multi-tier) entre as camadas “cliente” e “servidor”.

A primeira camada, o cliente, é essencialmente, uma camada de interface, podendo assumir algumas funções de processamento. Um cliente responsável por uma parte significativa do processamento é designado frequentemente por “gordo”, por oposição aos clientes mais “magros” que têm poucas funções para além das de interface (isto é, entrada e saída de dados). No limite, um sistema que dependa de clientes muito “gordos” não se distinguirá significativamente de uma arquitectura two-tier. Por norma, e em consequência das condicionantes decorrentes da utilização de redes Internet, os clientes neste tipo de redes (usualmente os browsers) são “magros”, passando a quase totalidade das funções de processamento para as outras camadas do sistema de informação.

A camada oposta à camada cliente tem funções de gestão da base de dados. É aqui que são armazenados os dados e é esta camada que deve assegurar a sua consistência.

A camada intermédia, que distingue funcionalmente a arquitectura three-tier da clássica organização two-tier, típica dos sistemas constituídos por um mainframe e por terminais, é uma camada de gestão de processos. É aqui que residem as aplicações que respondem aos pedidos dos utilizadores, processam os dados requisitados à base de dados e os enviam de volta para o cliente.

Note-se que, embora a arquitectura apresentada se baseie em três sistemas em grande medida independentes, não se desenvolve necessariamente em três máquinas distintas. Em muitos casos, em particular quando se prevê uma utilização simultânea de um grande número de utilizadores, ou quando o trabalho de processamento exigido se considera significativo, as camadas de gestão de processos e de bases de dados são separadas em máquinas diferentes. Perante as exigências previsíveis na maior dos sistemas de informação para a construção, incluindo mesmo os sistemas criados para apoiar a gestão de muitos dos grandes empreendimentos actuais, não se considera necessária esta separação do sistema, admitindo-se organizações mais simples. Naturalmente, o recurso a redes Internet resulta, em qualquer caso, numa separação física do cliente relativamente às restantes camadas do sistema.

Recursos necessários ao desenvolvimento

Aspectos gerais

Conforme foi já referido neste capítulo, os recursos necessários ao desenvolvimento ou adaptação e à manutenção de muitas aplicações “à medida” são francamente reduzidos e acessíveis a muitas das organizações do sector da construção, incluindo algumas de pequena dimensão. Uma análise muito breve dos recursos mínimos necessários para este fim confirma esta afirmação. Sublinha-se que os recursos indicados em seguida correspondem a uma configuração mínima, destinada a suportar aplicações simples, podendo revelar-se insuficiente para sistemas mais complexos do tipo ERP, por exemplo.

Refere-se finalmente que os custos indicados nos pontos seguintes – correspondentes a hardware, software e recursos humanos – dizem respeito apenas ao desenvolvimento e manutenção das soluções. Tal como sucede com os sistemas ERP, é possível que às aplicações desenvolvidas no interior das organizações correspondam custos “escondidos” incluindo custos de formação e possíveis quebras de produtividade após a adopção das soluções desenvolvidas.

Hardware

Qualquer computador pessoal actual pode ser usado, hoje em dia, como servidor de Internet, repositório de dados, servidor de e-mail e de aplicações web em simultâneo desde que não lhe sejam impostas exigências muito significativas, quer ao nível do número de utilizadores em simultâneo, quer ao nível das aplicações eventualmente instaladas.

Software

O software necessário é actualmente bastante estável, existindo para todas as utilizações previsíveis, diversas alternativas disponíveis, incluindo alternativas de custo reduzido ou mesmo gratuitas.

No cliente instala-se apenas, na maior parte dos casos, um vulgar browser web que, como se sabe, é instalado em conjunto com os sistemas operativos mais usuais ou pode ser obtido gratuitamente na Internet. Eventualmente poderá ser necessário acrescentar ao browser pequenos programas adicionais (plugins) para aceder a alguns tipos de conteúdo.

À camada intermédia (de gestão de processos) correspondem usualmente, para além das aplicações propriamente ditas, o programa servidor e, indirectamente, as ferramentas necessárias ao desenvolvimento das aplicações a disponibilizar.

O programa servidor (muitas vezes chamado apenas de servidor) mais utilizado no mundo, o Apache (Apache Software Foundation), pode ser obtido gratuitamente a partir da Internet.

A alternativa mais popular ao Apache – o Internet Information Services (IIS) da Microsoft – tem sido incluída em sucessivas versões do sistema operativo Windows desde 1996. Existem ainda alternativas gratuitas, que podem ser instaladas em computadores com sistemas operativos Windows que não incluam o IIS(UltiDev LLC 2006).

Um servidor web pode suportar conteúdo estático e dinâmico. Muito do conteúdo dinâmico é desenvolvido usando tecnologias como o PHP ou o ASP.NET. Estas tecnologias correspondem frequentemente a servidores específicos. Assim, aplicações desenvolvidas em ASP.NET, por exemplo, são associadas a servidores ISS. Existem actualmente diversas ferramentas destinadas ao desenvolvimento de aplicações PHP ou ASP.NET, tanto comerciais como gratuitas.

O componente essencial da camada de gestão de base de dados é, evidentemente, o sistema gestor de base de dados (SGBD). Para além dos dados e da respectiva estrutura, o SGBD inclui um conjunto de outros componentes que permitem a sua organização, armazenamento e acesso. À imagem dos outros constituintes de um sistema de informação apresentados, também no caso do SGBD é possível encontrar diversas alternativas no mercado, com diferentes tipos de licenças, incluindo as gratuitas.

Recursos humanos

No que toca aos recursos humanos, a tecnologia tem evoluído de forma que um conhecimento de um número limitado de linguagens de programação permite actualmente a realização de tarefas tão distintas como a automatização de programas comerciais (de desenho, de apoio ao planeamento, folhas de cálculo, etc.), a criação de páginas dinâmicas para a Internet, o acesso a bases de dados, para além da criação de aplicações mais simples. Esta evolução permite expandir as competências da generalidade dos programadores para áreas que anteriormente exigiriam conhecimentos mais especializados.

Admite-se, pois, que o desenvolvimento de aplicações usando os recursos próprios das empresas seja uma solução ao alcance de um número significativo de organizações dado que o investimento a realizar é, em geral, modesto.

Referências

  1. POÇAS MARTINS, J. P. 2009. Modelação do Fluxo de Informação no Processo de Construção - Aplicação ao Licenciamento Automático de Projectos. PhD Thesis, Universidade do Porto.