Sistemas de Classificação de Informação para a Construção

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O presente texto é um excerto de uma comunicação de Sousa, H.; Moreira, J. e Mêda, P., denominada “O ProNIC® no contexto dos sistemas de classificação da informação na construção” apresentada no Congresso GESCON 2008. Esta comunicação poderá ser consultada na íntegra (em Português e Inglês) na publicação GESCON 2008 as melhores comunicações ISBN. 978-989-96696-6-6.



Breve Retrospectiva sobre os primeiros Sistema de Classificação da Informação para a Construção (CICS)

Os CICS surgem no início do século XX, com o intuito de suprimir algumas debilidades que se iam acentuando em determinados processos, no sector da construção. Um estudo aprofundado da história dos CICS permite a realização de uma retrospectiva sumária que a seguir se apresenta.

Em 1920, o Instituto Americano dos Arquitectos desenvolveu e publicou a primeira edição do “Standard Filing System and Alphabetical Index”, sistema normalizado de preenchimento e indexação alfabética. Esta publicação consistia num sistema cuja base de concepção assentava na classificação de materiais de construção.

Posteriormente em 1963, o “Construction Specification Institute” – Instituto para as Especificações na Construção (CSI) desenvolveu e publicou o “CSI Format for Building Specification” – Modelo para Especificações de Edifícios. Este sistema era composto por 16 Capítulos.

Em 1972, um consórcio composto por 7 organizações, entre elas o CSI e o CSC “Construction Specification Canada” desenvolveram o “Uniform Construction Index (UCI)”.[1] Este novo sistema estabelecia modelos/formatos para vários tipos de documentos, nomeadamente para especificações, para registo/arquivamento de dados, para análises de custos e para registo/arquivamento de projectos. Este sistema tinha como princípio de desenvolvimento as obras de construção de edifícios. Dada a sua especificidade, verificou-se que a sua aplicação a outros tipos de obras, tais como grandes obras de engenharia civil era extremamente difícil. Para dar resposta a este facto, em 1978, as entidades anteriormente referidas (CSI e CSC) desenvolveram, com base no UCI, um novo sistema de classificação que viria a ser chamar-se Masterformat. [2] O Masterformat foi substituindo o sistema UCI e passou a ser reconhecido como o CICS de referência na América do Norte. Desde a versão original, o Masterformat já sofreu várias alterações que deram origem a 3 re-publicações.

Na Europa foram também desenvolvidos outros sistemas, adaptados a outras realidades.

No Reino Unido, foi desenvolvido em 1976 pelo “Institution of Civil Engineers (ICE)”, o sistema CESMM – “Civil Engineering Standard Method of Measurement” [3], vocacionado para o levantamento detalhado das quantidades de trabalhos (medições), em obras de engenharia civil. A sua grande aplicabilidade às obras de engenharia civil levou a que fosse actualizado 3 vezes, sendo a última versão (CESMM3) publicada em 1992.

O referencial G.I.T Descriptif – Maîtrise d’Oeuvre, desenvolvido em França em 1981, pela associação ISBAT, apresenta uma base de dados de trabalhos de edifícios, editável e com mais de 4000 artigos que se articulam com normas, DTU’s, regulamentação e preços, possibilitando a realização de articulados de trabalhos, quantidades, medições, estimativa de preços e análise de propostas [4].

Um dos sistemas que teve maior impacto foi o SfB – “Samarbetskommitten for Byggnadsfragor”, que mais tarde viria a ser designado por CI/SfB – “Classification Index/SfB”. Estes sistemas foram desenvolvidos pelo “Joint Working Comittee for Building Problems in Sweden” - Comité Sueco para os Problemas dos Edifícios em 1949 e pelo “Royal Institue of British Architects” - Instituto Real dos Arquitectos Britânicos (RIBA) em 1968, respectivamente.

A aplicação prática do CI/SfB mostrou que o sistema tinha uma boa aplicabilidade embora apresentasse algumas deficiências ao nível da sua complexidade na utilização (pouco prático) e desadequação a trabalhos de engenharia civil [5].

A crescente necessidade de CICS cada vez mais abrangentes face à incapacidade de resposta dos existentes, promoveu uma reflexão profunda sobre a classificação da informação. A iniciativa teve origem no International Council for Research and Innovation in Building and Construction (CIB) que, aprofundado pela International Organization for Standardization (ISO) viria a dar origem ao ISO/TR 14177:1994 [6], um relatório/proposta para o estabelecimento de um sistema universal para a Classificação da Informação para a Indústria da Construção.

É com base nesta informação que surge o Uniclass. Este sistema será objecto de referência específica mais à frente.

A continuação dos trabalhos por parte da comissão que redigiu o referido relatório, leva à publicação em 2001 da norma internacional ISO 12006-2 “Construção de Edifícios – Organização de informação paras actividades de construção – estrutura para classificação da informação” [7]. Esta norma viria a contribuir para o desenvolvimento dos CICS numa perspectiva internacional. Em harmonização com os princípios do Uniclass, mas tendo como base sistemas americanos como o Masterformat, surge em 2006 o OmniClass [8].

Trabalhos nacionais mais relevantes no âmbito da Classificação e Gestão da Informação

Em Portugal decorreram algumas iniciativas no sentido de organizar, e em alguns casos classificar, a informação dos projectos. Uma parte significativa destas actividades teve origem no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, com âmbito muito focalizado para a vertente de construção de edifícios e incidindo sobre aspectos muito específicos da construção (realçados a negrito), como seguidamente se apresenta:

- no inicio da década de 70, o trabalho de desenvolvimento de um caderno de encargos tipo para obras de edifícios, tendo sido publicados 5 volumes respeitantes aos trabalhos de edifícios [9];

- o desenvolvimento de um conjunto de regras de medição, com republicações frequentes, tendo como base uma estrutura de desagregação dos trabalhos por especialidades [10];

- o desenvolvimento de fichas de custos e rendimentos com valores de referência para trabalhos de edifícios, com republicações frequentes, tendo como base uma desagregação por elementos construtivos [11];

- numa perspectiva mais geral da organização e formatos da documentação de projecto, a colectânea da década de 60 sobre a organização de projectos de edifícios [12]. Muitas instituições, sobretudo as estatais com perfil de donos-de-obra, e em alguns casos projectistas, desenvolveram estruturas de Cadernos de Encargos em domínios específicos, tais como infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias.

Tendo como objectivo a criação de um referencial para os trabalhos de construção de edifícios, com uma definição clara do papel de todos os intervenientes no processo e tentando desenvolver um método para classificação dos materiais de construção, surge em 1998 o projecto CIC-NET. Este projecto foi promovido por um consórcio de empresas do processo de construção e que contou com a participação do Instituto da Construção da FEUP e do INESC-Porto. Do trabalho técnico e científico desenvolvido no âmbito deste processo resultaram conceitos de base, metodologias e aplicações informáticas dirigidas para a sistematização de bases de dados de informação técnica [13].

É neste contexto, atendendo às experiências referidas assim como às necessidades actuais resultantes da evolução de processos verificada no sector e da grande produção de normalização europeia e nacional, que surge o ProNIC®.


Breve abordagem ao Uniclass

O Uniclass é um sistema que surge da necessidade de actualização do CI/SfB. Agrega todos os sistemas de informação desenvolvidos e em utilização até à data no Reino Unido. Além dos pressupostos do CESMM3 e do CI/SfB, já referidos, o Uniclass integra também outros sistemas tais como o CAWS – “Common Arrangement of Work Sections” e o EPIC – “European Product Information Cooperation”.

Uniclass origins.jpg


Fig.1 – Origem (influências) do Uniclass

A sua estrutura é composta por 15 tabelas como se pode verificar no Quadro 1 da página seguinte. Como se referiu, o Uniclass é uma classificação “facetada” em que cada tabela apresenta aspectos distintos da informação na construção. A classificação pode ser utilizada separadamente (classificação de uma única tabela) ou em conjugação com outras tabelas de modo a classificar matérias complexas.


Quadro 1 – Tabelas do Uniclass

Uniclass table.jpg


Muitas das tabelas estão inter-relacionadas. Entende-se por este conceito a repetição em diferentes tabelas da mesma palavra ou palavras com sentidos próximos/semelhantes. A título de exemplo “janelas” surge na tabela “Produtos de Construção”, “Elementos Construtivos de edifícios” e “Actividades de construção em edifícios”. A diferença é que “janelas” na tabela L “Produtos de Construção” refere-se ao produto pronto; na tabela G “Elementos Construtivos de edifícios” representa uma parte do edifício; e na tabela J “Actividades de construção em edifícios” refere-se ao processo de instalação das janelas [14].


Referências

[1] Uniform Construction Index, Washington D.C., American Institute of Architects, 1972.

[2] CSI/CSC Masterformat – Manual of practice, Alexandria, Construction Specification Institute/Construction Specification Canada, 1983.

[3] Civil engineering standard method of measurement 3rd Ed., U.K., Thomas Telford Ltd., 1991.

[4] http://www.isbat.fr/

[5] Yoon, C. S., A chronological study on the U.K. building classification system since CI/SfB, J Korean Soc. of Arch. Engrg., Seoul, 79-88.

[6] Classification of information in the construction industry. Tech. Rep. 14177, ISO TC 59 SC/WG2, Oslo, International Organization for Standardization, 1994.

[7] ISO 12006-2:2001 Building Construction – Organization of information about construction works – Part 2: Framework for classification of information, Oslo, International Organization for Standardization, 2001.

[8] http://www.omniclass.org/ .

[9] Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Caderno de encargos-tipo para a construção de edifícios, Vol 1, 2, 3, 4, Lisboa, 1970-1972.

[10] Fonseca, M. Santos. Curso sobre Regras de Medição na Construção, LNEC, Lisboa, 1997.

[11] Manso, A. C.; Fonseca, M. Santos; Espada, J. C. Informação sobre custos: Fichas de Rendimentos – Vol. 1 e 2, LNEC, Lisboa, 1997.

[12] Reis Cabrita, A. M. Organização de Projectos de Edifícios – Curso de Promoção Profissional 506, LNEC, Lisboa, 1974.

[13] Corvacho, H.; Sousa, H.; Moreira da Costa, J.; Amorim Faria, J.; Gonçalves, M.; Pinho, P. O Projecto CIC-NET: Rede de cooperação estratégica entre empresas do processo de construção, Engenharia Civil - UM, n.º13, 2002, pp. 19-34.

[14] Crawford M. e tal; Uniclass: Unified Classification for the Construction Industry, RIBA, London, 1997.