Organização do Estaleiro

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Esta página foi desenvolvida no âmbito de uma tese do MIEC-FEUP em colaboração com a empresa MSF Engenharia e faz parte da MSF WIKI


RESUMO

A Organização do Estaleiro de Obra é um processo importante que, realizado de forma adequada, permite a redução de prazos e custos das obras, o qual é um dos objectivos prioritários por parte dos profissionais de engenharia civil. No corpo deste artigo estão contidas informações sobre as principais decisões e actividades a executar para que o referido processo tenha um desenvolvimento eficiente, tais como alguns critérios para a escolha do local do estaleiro e algumas metodologias que podem ser seguidas para a montagem do mesmo.

ORGANIZAÇÃO DO ESTALEIRO

Na procura da optimização da disposição dos meios e instalações que integram o estaleiro de obra, o responsável por essa tarefa socorre-se habitualmente de um conjunto de critérios gerais que o auxiliam no concretizar de tal objectivo. Mencionam-se de seguida alguns desses critérios: - A minimização das distâncias a percorrer em obra, pelas pessoas, materiais e máquinas; - A minimização do número de operações de carga, descarga e transporte dentro de obra; - A garantia da realização dos percursos referidos anteriormente em boas condições; - A minimização do número de montagens e desmontagens implícitas aos ajustes que acompanham as várias fases de execução da obra; - A flexibilidade dos espaços de trabalho que permita a alteração em face do faseamento da obra; - O isolamento das áreas sociais do estaleiro, tendo em consideração motivos de conforto e segurança; - O posicionamento das áreas de controlo e estacionamento junto às entradas para a obra; - O posicionamento das oficinas de produção em zonas recatadas e das saídas das oficinas debaixo da acção dos equipamentos elevatórios ou num limite próximo do seu raio de acção; - A segurança dos trabalhadores e restantes utilizadores do estaleiro. Para melhor conciliar todas as condicionantes mencionadas e respeitar os critérios acima referidos, existe um conjunto de metodologias que podem ser seguidas, as quais são resumidamente definidas pelas seguintes etapas sequenciais: - A selecção de serviços, infra-estruturas e meios a instalar; - A atribuição de áreas e tipo de construção (barraco, coberto, coberto com estrado, armazém, máquina, armazém ao ar livre) e forma geométrica da mesma; - A implantação física à escala das áreas definidas no passo anterior sobre planta de implantação da obra a edificar.[1]

Para isso, procede-se, em primeiro lugar, à análise de vários elementos, tais como o Projecto de Execução, o Caderno de Encargos, entre outros, os quais contêm informações relevantes sobre as necessidades da obra no que respeita a mão-de-obra, materiais, trabalhos e equipamentos. Esta análise assume-se como preponderante na escolha dos serviços, infra-estruturas e meios aos quais será necessário recorrer para a execução da obra.

Deve ser efectuado também o devido reconhecimento da zona onde o empreendimento terá lugar para conhecer as hipóteses viáveis para a localização do estaleiro.


ESCOLHA DO LOCAL DE ESTALEIRO

A escolha do local do estaleiro deve atender aos seguintes aspectos na referida ordem:


1. Verificar compatibilidade com RECAPE (se existir);

2. Zonas já exploradas anteriormente;

3. Compatibilidade com o mapa de condicionantes: REN, RAN, … (se não existir, pedir nas Câmaras);

4. Proximidade com a obra – deverá ser o mais próximo e central possível;

5. Bons acessos rodoviários;

6. Facilidade de fornecimento de energia eléctrica, água, saneamento, telefone e internet;

7. Menor custo global do estaleiro

Deve optar-se por um local que minimize o custo global do estaleiro, o qual compreende não só o custo das instalações, meios de apoio e equipamentos e respectiva montagem, mas também os custos referentes a algumas actividades básicas do quotidiano dos trabalhadores, tais como as refeições e as dormidas (no caso de estas serem suportadas pela empresa)

8. Evitar zonas inundáveis ou com más fundações (devido à eventual instalação de centrais de betão/betuminosos);

9. Zonas com pouco relevo para minimizar trabalhos de movimentação de terras

É aconselhável a escolha de uma zona com um relevo pouco acidentado, tendo em vista a minimização dos trabalhos de terraplenagens.

10. Máximo afastamento de habitações

O estaleiro deve localizar-se o mais afastado possível das habitações dos residentes nos arredores da obra, minimizando eventuais situações incómodas decorrentes de questões como o ruído, a poluição…

11. Perímetro de forma regular, com poucos recortes

12. Menor número de proprietários possível

Deve escolher-se um terreno que tenha o mínimo de proprietários possível, reduzindo desta forma o número de autorizações para a utilização das áreas do terreno necessárias e consequentemente o estabelecimento de contratos de arrendamento. Quanto menor for o número de proprietários, menor o número de contratos a estabelecer.


MÉTODO DAS CORRELAÇÕES

Seguidamente, o objectivo é encontrar, para as várias opções encontradas para situar o estaleiro de obra, a disposição adequada para cada um dos componentes do estaleiro a implantar, estudando-se o nível das relações que existem entre os mesmos. Para essa análise, utiliza-se muitas vezes um processo denominado por Método das Correlações. Esse processo consiste numa análise que segue alguns passos, dos quais se salientam:

1. A escolha de grandes zonas onde instalar cada um dos grupos (meios de carga, descarga, elevação e transporte interno; depósitos e armazéns; vias de comunicação; instalações de produção; instalações administrativas; instalações de apoio e controlo; instalações sociais e vias de comunicação), tendo em consideração alguns critérios já citados anteriormente;

2. A implantação de cada um dos grupos seguindo uma ordem sucessiva de importância;

3. A apreciação crítica da solução encontrada, utilizando uma matriz de correlações e tendo como base os critérios de optimização referidos acima. Através da matriz de correlações, devem estabelecer-se os vários níveis de relação entre a obra a executar e as instalações e meios de apoio que serão utilizados consoante a importância das relações. Apresenta-se abaixo o exemplo de uma matriz de correlações no âmbito da construção de um edifício para uma melhor compreensão do propósito da mesma.

Devem ser, através deste processo, avaliadas comparativamente as várias hipóteses para a implantação do estaleiro. Finalmente, encontrar-se-á não a solução óptima, mas aquela que melhor corresponde aos critérios e condicionantes descritos.


PLANEAMENTO E MONTAGEM DO ESTALEIRO

Tendo por base diversas condicionantes referentes à implantação de qualquer estaleiro de obra, assim como os referidos no ponto referente à escolha do local do estaleiro e as características específicas da obra em causa no que se refere ao tipo e dimensão da mesma, os responsáveis pela Direcção de Obra definem quais as instalações fixas, os meios de apoio e equipamentos necessários à sua execução e efectuam dessa forma o planeamento do estaleiro de obra.

O planeamento do estaleiro de obra deve incluir os seguintes elementos:


  • O plano de estaleiro, que integra as diversas plantas onde se representam as instalações e redes, e as memórias descritivas respectivas
  • Os planos de montagem e desmontagem de equipamentos e respectivos licenciamentos ou autorizações;
  • Os planos de mobilização e desmobilização de equipamentos e instalações.


Associados a este planeamento estão também a escolha e negociação dos terrenos para estaleiro a utilizar. São, para isso, acordadas condições com os proprietários dos terrenos ou com os seus representantes, estabelecendo contratos para a sua utilização. Após a conclusão do planeamento do estaleiro de obra, passa-se à montagem das infra-estruturas e instalações do mesmo, a qual pode ser feita mediante três opções:


1) GLOBAL - Lança-se concurso para a execução deste trabalho, adjudicando o mesmo a uma empresa que realizará a montagem do estaleiro conforme estabelecido no respectivo projecto.

2) PARCIAL – Dispondo do material e da mão-de-obra necessários ou adquirindo o material e contratando a mão-de-obra, a empresa poderá optar por efectuar a montagem do estaleiro sem o recurso a terceiros.

3) MISTA – Pode ainda a empresa escolher esta terceira hipótese, segundo a qual alguns trabalhos da montagem do estaleiro são subcontratados enquanto outros são realizados por trabalhadores da empresa.


No planeamento e montagem do estaleiro de obra, deve ter-se em consideração alguns diplomas legais que regulamentam certos aspectos relativos ao mesmo. Mencionam-se seguidamente alguns deles e as principais disposições que podemos encontrar nos mesmos. São eles:

- O Decreto n.º 41821, de 11 de Agosto de 1958 – Regulamento de Segurança no Trabalho da Construção Civil,

- O Decreto n.º 46427, de 10 de Julho de 1965 – Regulamento das Instalações Provisórias Destinadas ao Pessoal Empregado nas Obras, cujo primordial objectivo é “regulamentar as disposições que deverão ser observadas nas obras em geral, em matéria de instalações para o pessoal que nelas trabalha”;

- O Decreto Regulamentar n.º 33/88, de 12 de Setembro - Regulamento de Sinalização de Carácter Temporário de Obras e Obstáculos na Via Pública;

- Decreto-Lei n.º 273/2003, de 29 de Outubro, que “estabelece regras gerais de planeamento, organização e coordenação para promover a segurança, higiene e saúde no trabalho em estaleiros da construção e transpõe para a ordem jurídica a Directiva n.º 92/57/CEE, do Conselho, de 24 de Junho, relativa às prescrições mínimas de segurança e saúde no trabalho a aplicar em estaleiros temporários ou móveis”.


A adequada organização do Estaleiro de Obra, tal como explicado no desenvolvimento do presente capítulo, é um processo condicionado por variados factores e regulações legais que os profissionais de engenharia optimizam utilizando diversos critérios e recorrendo a algumas metodologias que os auxiliam e lhes facilitam essa tarefa.

ANEXOS

LIGAÇÕES DE INTERESSE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

<references>

  1. Amorim Faria, José - Apontamentos da disciplina de Gestão de Obras e Segurança do Mestrado Integrado em Engenharia Civil. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 2010