Sistemas de Informação na Construção:Introdução

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Adaptado a partir de[1].

Construção Civil: um sector ineficiente?

Durante séculos, a construção civil foi a actividade industrial com um maior consumo de recursos humanos e materiais. Para além de todo o peso que o sector ainda representa na economia, a construção civil desempenhou, até meados do século XIX, um papel no desenvolvimento tecnológico que desde então tem perdido para outras actividades industriais.

Estudos nacionais e internacionais revelam que a produtividade das empresas do sector da construção é consideravelmente mais baixa do que a do resto da economia. Uma análise da evolução ao longo das últimas quatro décadas revela mesmo que, apesar de todo o progresso tecnológico verificado, a produtividade na construção, medida da forma usual, tem sofrido um ligeiro decréscimo enquanto a produtividade do resto da economia mais do que duplicou.

As tecnologias de informação têm permitido o desenvolvimento de novos métodos de trabalho em todos os sectores da economia, incluindo a construção civil. Existe uma enorme variedade de aplicações específicas para o sector da construção, desenvolvidas praticamente desde que existem computadores com output gráfico. Algumas destas aplicações ter-se-ão tornado standard, podendo ser encontradas na maioria dos gabinetes de projecto ou escritórios de obra. Estas observações parecem indicar que o problema da gestão da informação na construção está já resolvido e que as manifestações evidentes de uma gestão da informação ineficaz se devem apenas a atrasos pontuais na disseminação da tecnologia de informação existente.

Na realidade, estudos recentes indicam que a indústria da construção é uma das menos eficientes na adopção das tecnologias da informação. Com efeito, as expressões “informatização” e “gestão da informação” não são sinónimas e é frequente encontrar-se empresas bem servidas em termos de hardware, com software actualizado e pessoal dedicado em exclusivo à manutenção do sistema informático mas que não realizam uma gestão eficaz da informação.

Uma avaliação efectuada aos métodos de trabalho no sector da construção civil permite afirmar que esta revela ineficiências significativas relacionadas com a transição entre as sucessivas fases do processo construtivo. Os problemas de interoperabilidade entre sistemas de informação ao longo do processo construtivo espelham a sua estrutura fragmentada e acarretam custos elevados para todos os participantes. Estas ineficiências assumem várias formas, entre as quais o desperdício de tempo e a acumulação de erros devidos à introdução repetida de dados por processos manuais, a dificuldade em comunicar com outros intervenientes e a dificuldade em reutilizar a informação produzida em projectos anteriores.

Estes aspectos tornam útil a comparação da indústria da construção com outras actividades com um desempenho mais favorável nas áreas indicadas.

A indústria automóvel, em particular, tem gerado soluções que têm vindo a ser avaliadas e implementadas noutros sectores da economia. Entre as mais recentes tendências de gestão nascidas no sector automóvel ou que foram adoptadas desde logo nesta indústria, estão a filosofia lean e o PLM (Product Lifecycle Management).

A especificidade da indústria da construção tem impossibilitado a importação directa de soluções e atrasado a adaptação de métodos bem aceites noutros sectores.

Tecnologias de informação na construção: Situação actual

Adopção e adaptação de tecnologias da informação

Muitas empresas industriais de áreas diversas, com alguma afinidade com o sector da construção adoptaram, há mais de duas décadas, sistemas fiáveis de gestão da informação do tipo ERP (Enterprise Resource Planning). Hoje em dia, as aplicações ERP estão implementadas, com sucesso, na generalidade das empresas de construção com alguma dimensão.

Os BIM (Building Information Model), a aplicação da filosofia PLM ao sector da construção, começam a conhecer as suas primeiras aplicações práticas.

Ainda assim, os problemas referidos subsistem de tal forma que uma habitação custa hoje mais do que em 1964, a preços constantes. É certo que os produtos da construção são hoje mais sofisticados do que há 40 anos atrás mas, em muitos outros sectores, foi possível, através de um incremento significativo na produtividade, aumentar a qualidade dos produtos, diminuindo simultaneamente os seus preços.

BIM: um novo paradigma na construção

Na opinião de muitos autores, os BIM são uma tecnologia revolucionária, capaz de alterar radicalmente as práticas de trabalho actuais pelos seguintes motivos:

  1. Constituem formatos padrão para a representação de informação;
  2. Permitem uma redução do esforço necessário para a representação de informação;
  3. Obrigam à antecipação das decisões de projecto;
  4. Favorecem a interoperabilidade entre sistemas de informação.

Tem-se observado uma forte actividade das empresas de software no sentido de produzir aplicações comerciais, total ou parcialmente, com os formatos padrão de representação. No caso dos produtos da construção, esse formato é o IFC (Industry Foundation Classes) ou alguma das suas variantes.

Esta evolução é significativa e transcende largamente a simples criação de mais uma ferramenta informática para o sector: os BIM representam um novo paradigma na construção.

BIM: dificuldades em satisfazer exigências de utilizadores

Apesar do enorme potencial reconhecido nos BIM, observa-se que a sua adopção por parte da comunidade de potenciais utilizadores é muito diminuta. Estudos realizados em diferentes países revelam que apenas uma minoria dos técnicos do sector experimentaram já ferramentas BIM e que, entre estes, a larga maioria os utiliza apenas como ferramenta de desenho, tirando partido das suas funções de representação em 3 dimensões.

Assim, importa reflectir acerca da capacidade dos BIM para dar resposta aos problemas concretos da construção de hoje, isto é, com os regulamentos, as organizações e as práticas de trabalho actuais.

Na última década, uma parte significativa do esforço de investigação e desenvolvimento na área dos BIM tem incidido na produção de uma linguagem comum para a construção. Este tem sido um esforço que segue uma abordagem tipicamente top-down: uma parte da comunidade identifica ineficiências nas práticas de trabalho do seu sector de actividade e prescreve soluções, tecnicamente complexas, que o sector nunca exigiu.

Considera-se, pois, que a abordagem seguida actualmente deve ser complementada com um esforço bottom-up que, partindo das exigências da comunidade técnica actual, proponha soluções que resultem em vantagens de curto prazo, reconhecidas pelos intervenientes no processo construtivo.

Uma abordagem deste tipo permitirá, por um lado, alargar significativamente a base constituída pela comunidade de utilizadores dos BIM, ao tornar mais gradual a evolução dos métodos de trabalho. Por outro lado, permitirá identificar potenciais lacunas nos formatos de representação existentes, que os tornam menos aptos para representar algumas características relevantes dos produtos da construção.

Os BIM são uma tecnologia aplicável a todo o processo construtivo, mas o seu potencial só poderá ser plenamente aproveitado se forem adoptados desde as fases iniciais deste processo. Assim, e embora alguns estudos apontem a fase de utilização como aquela em que poderão ser recolhidos os maiores benefícios, a longo prazo, da adopção dos BIM, considera-se que as entidades que têm a capacidade de dinamizar todo o processo de mudança são os donos de obra e os projectistas. Admite-se que é a estes utilizadores que importa evidenciar as vantagens reais da aplicação das novas tecnologias.

Bibliografia

  1. POÇAS MARTINS, J. P. 2009. Modelação do Fluxo de Informação no Processo de Construção - Aplicação ao Licenciamento Automático de Projectos. PhD Thesis, Universidade do Porto.