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Legenda: Tiago Sousa, alumni de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP.

Fez parte da primeira missão europeia dedicada à defesa planetária e é atualmente responsável por projetos que estão em órbita a caminho de Mercúrio e Júpiter. Tiago Sousa estudou Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), e confessou que se hoje trabalha na área da Engenharia Aeroespacial tudo se deveu a um “acaso”. Atualmente a exercer funções na LusoSpace, em Lisboa, o alumni contou-nos sobre os seus projetos e como tem sido trabalhar no que tanto o desafia.

 

O Engenheiro em formação

Se recuarmos no tempo, à infância de Tiago, seria quase certo que o encontraríamos a desmontar os seus brinquedos, com um propósito muito bem definido. “Eu queria perceber a sua constituição e brincar com tudo aquilo. O que me fascinava – e ainda fascina – era tudo o que envolvesse circuitos elétricos”, partilha. E terá sido precisamente este fascínio que mais tarde o levou a enveredar pela área da Engenharia. “Foi uma escolha natural, associada a este gosto que eu tinha. E estava certo de que queria trabalhar com Eletrónica”.

Em 2002, ingressou no Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, na FEUP, onde vivenciou inúmeras experiências e reuniu um conjunto de conhecimentos essenciais para o seu futuro profissional. “Candidatei-me a esse curso de norte a sul do país, mas a FEUP foi a minha primeira opção. Estudar cá foi uma boa experiência e acho que nos preparou bem para o mercado de trabalho”, comenta Tiago.

“Quando uma pessoa acaba o curso acha sempre que não sabe muita coisa. Só depois, quando vai trabalhar e tem de se especializar em algo do seu interesse, é que percebe o quão importante foi o que aprendeu na faculdade – porque é lá que se recebe a base para fazer essa escolha. Nisso, acho que a FEUP nos consegue preparar muito bem”, partilha.

 

Um “acaso” que alicerçou um percurso

Concluído o curso, em 2008, Tiago iniciou a primeira experiência profissional na EFACEC, como Embedded Software Engineer. Mas mais do que um primeiro trabalho, este foi um período crucial na definição da área em que viria a construir o seu percurso – ou não tivesse sido por um “acaso” o surgimento do Espaço no seu caminho.

“Eu sempre gostei muito de tudo o que estivesse relacionado com o Espaço, a par da eletrónica. Mas nunca pensei em trabalhar nessa área. Quando comecei a procurar trabalho e surgiu a oportunidade de trabalhar na EFACEC, era precisamente para uma função na equipa do Espaço, que nem sabia que existia. Foi tudo obra do acaso”, recorda o alumni, de sorriso esboçado no rosto.

A partir desse momento, Tiago começou a envolver-se em projetos que o impactaram e alicerçaram o seu percurso na área. Dois deles foram o TDP8, uma plataforma de testes de dispositivos para o Espaço, e o BERM, um medidor de radiação. Em ambos os projetos, o alumni da FEUP teve como funções desenhar, validar e realizar testes de eletrónica.

“As tecnologias que se usam no Espaço têm de funcionar com base no que está comprovado até ao momento em que são desenvolvidas. Um dos problemas que lá existe é a exposição dos materiais à radiação – o que não acontece na Terra porque temos a atmosfera que nos protege. Essa radiação, na eletrónica, pode provocar falhas críticas capazes de destruir o satélite”, explica.

Neste sentido, o TDP8 continha um conjunto de novas tecnologias que nunca tinham sido testadas anteriormente, para avaliação das potencialidades da sua utilização em dispositivos para o Espaço. “Esse sistema de testes esteve a funcionar durante 5 anos no Espaço, o que permitiu estudar que tipos de efeitos é que a radiação causava nessas componentes e perceber o impacto no seu envelhecimento”, afirma.

Legenda: Tiago Sousa na EFACEC.

 Mais tarde, também na EFACEC, Tiago assumiu a função de Hardware Design Engineer, onde trabalhou no desenvolvimento, testagem e validação de software de dispositivos para o Espaço. Aqui, esteve envolvido nos projetos JMU e RADEM, ambos medidores de radiação incluídos na missão JUICE (acrónimo de JUpiter ICy Moons Explorer), da Agência Espacial Europeia (ESA), que de momento está a caminho de Júpiter. O objetivo desta missão é auxiliar a compreensão de como é que este os planetas gasosos e as suas luas se formam e avaliar o potencial destes planetas terem vida.

Em 2022, o amante de corridas ao ar livre assumiu uma nova função na empresa: a de Aerospace Projects Manager, durante a qual esteve como responsável técnico do projeto PALT, um altímetro a ser aplicado na primeira missão dedicada à defesa planetária da Europa, denominada Hera. “Este foi um projeto em que desenvolvi muitas competências. Gostava muito das reuniões que tinha na ESA, que me permitiam perceber diferentes perspetivas associadas ao projeto. Todos os meses havia uma apresentação científica aos Engenheiros que estavam a trabalhar no projeto, provenientes de todas as equipas nele envolvidas. Foi a primeira missão em que eles fizeram isso e eu aprendi muito”, partilha Tiago.

O Espaço no presente

Em 2023, Tiago Sousa abraçou um novo desafio, desta vez como System Engineer, na LusoSpace, uma empresa portuguesa da área da Engenharia Aeroespacial sediada em Lisboa. Atualmente está como responsável técnico do desenvolvimento de dois projetos. Um deles é um magnetómetro designado DMAG, que tem como objetivo a medição do campo magnético à volta de um satélite, auxiliando na deteção da posição do mesmo.

O outro projeto é o IATON, uma constelação de 12 satélites. Esta constelação, uma vez lançada para o Espaço, terá como objetivo estabelecer comunicação com embarcações, criando a possibilidade de as autoridades as poderem localizar e de os próprios donos das mesmas receberem informações em tempo real.

Para o alumni da FEUP, em comparação com os outros projetos em que esteve envolvido, o IATON tem sido um projeto muito desafiante, essencialmente porque assume o comando de uma equipa multidisciplinar, tendo de tomar todas as decisões técnicas a ele associadas. “Nos outros projetos em que estive envolvido, eu ia apenas fazendo um acompanhamento das outras áreas. Agora, com o IATON estou a aprender coisas todos os dias e sou eu que defino todos os aspetos técnicos associados ao projeto”, reflete.

Os 12 satélites do IATON estão ainda em desenvolvimento, o que envolve, segundo Tiago, “o desenho da constelação, a análise de órbitas, a avaliação do tempo que esta estará no Espaço, possíveis formas de prolongar o seu tempo de vida e de se realizar análises térmicas”. Uma vez concluídas estas tarefas, os satélites serão lançados para o Espaço.

Por enquanto, o único lançamento planeado é o do “satélite-teste”, que decorrerá em outubro e será realizado pela SpaceX, na Flórida (Estados Unidos da América).

Engenharia Aeroespacial: uma área com futuro

Segundo Tiago Sousa, o futuro do Espaço parece ser promissor. “Antes, o Espaço era muito inacessível. Neste momento, ainda que continue a ser uma indústria muito cara, há uma necessidade de informação de vários nichos da Terra”, aponta. “Existem muitos projetos de aquisição de dados da Terra que estão a ser desenvolvidos e a ganhar importância. E eu estou certo de que isto vai ajudar muito a sociedade” realça Tiago.

“Depois, também há o turismo espacial, como as ideias de colonizar Marte, que, a meu ver, são um bocadinho mais otimistas. Duvido que o prazo para que isso aconteça seja na próxima década, mas não deixa de ser uma possibilidade. Num futuro próximo, haverá muita necessidade de trabalhar mais rápido para o Espaço, com melhor qualidade e envolvendo missões mais curtas. Acho que isto está a implicar uma enorme procura de conhecimentos nesta área, que os Engenheiros Aeroespaciais devem aproveitar”, afirma.

Do ponto de vista do futuro do seu percurso, o alumni da FEUP já tem os seus planos traçados. “Eu espero continuar nesta área, porque é algo de que eu gosto. Até ao momento, sinto muito orgulho em poder ter trabalhado sempre com empresas portuguesas. Agora que estou em frente desta constelação é muito entusiasmante. E é a isso que me vou dedicar no futuro”, conclui.