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Legenda: Ana Pinheiro e Mário Miranda, alumni de Engenharia Mecânica da FEUP.

Apaixonados por aviões e pelo Espaço, foi na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) que encontraram a solução para o seu projeto de vida. Ana Pinheiro e Mário Miranda concluíram o Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica no mesmo ano, mas divergiram nas escolhas que fizeram logo a seguir ao término do curso. Ana seguiu para a Indústria e Mário manteve-se na Academia. Numa entrevista por videochamada que ligou a Holanda e Inglaterra ao Porto, estivemos à conversa com ambos para conhecer melhor o seu percurso e o que motivou as suas opções de vida.

Foi nas salas de aula da Escola Secundária de Amarante e da Escola Secundária Almeida Garrett (Vila Nova de Gaia) que Ana e Mário, respetivamente, frequentaram o ensino secundário e consolidaram a ideia de que era Engenharia que gostavam de seguir. Para Mário, foi em tenra idade que percebeu que o seu futuro passaria por aí. “Acho que desde sempre soube o que queria. O meu gosto por tudo o que envolvesse mecanismos e máquinas, naves espaciais, carros e aviões, fazer construções com legos e saber os ‘porquês’, sem dúvida que foram fatores que tiveram influência em mim”, reflete.

Para Ana, a ideia de seguir Engenharia poderá não ter sido tão imediata. “No secundário, já considerava as Engenharias, mas Medicina também era uma opção. Com as minhas notas, podia escolher várias possibilidades. Ainda assim, atendendo ao meu gosto por Matemática e Físico-Química, seguir Engenharia pareceu-me natural”, aponta. ”O próximo desafio foi decidir qual – evidência que surgiu no 12º ano. Aí, já estava certa de que queria Engenharia Aeroespacial, mas como na altura ainda não havia esse curso no Porto e o curso mais semelhante, dentro da minha área de residência, era Engenharia Mecânica, foi aí que a minha escolha recaiu”, explica.

Já para Mário, o ‘dilema’ da Engenharia Aeroespacial terá sido o mesmo. “Eu sempre tive uma paixão muito grande por aeronaves – aliás, a maior parte dos legos que eu tinha eram helicópteros. Tendo isto em conta, os cursos que mais se ajustariam aos meus interesses seriam Engenharia Aeroespacial ou Aeronáutica, o que implicava ir para longe de casa. E na verdade este fator teve o seu peso na decisão. Depois de passar uns tempos na Academia da Força Aérea, inscrevi-me em Engenharia Mecânica na FEUP por ser um curso mais abrangente, que permitiria especializar-me em Aeroespacial”, afirma.

Um percurso com a ‘marca’ FEUP

Ingressaram na FEUP em 2018. Para ambos, este foi o primeiro passo para firmarem um percurso académico e profissional próximo das suas áreas de interesse. “A FEUP trouxe-me muita coisa. No primeiro ano dediquei-me bastante e foi um momento de verdadeira descoberta: descobri partes de mim que não sabia que tinha, tanto a nível pessoal como a nível académico. E sempre tentei fazer tudo, para não deixar nada para trás, como participar em atividades da faculdade, que foram bastante importantes para mim”, recorda Mário.

Para Ana, a “nova aventura” também teve as suas particularidades. “Na altura, não conhecia ninguém do meu curso. No início, uma pessoa está sempre um pouco assustada, mas quase toda a gente está na mesma situação. Umas semanas depois, era quase como se estivesse em casa e os 5 anos passaram muito bem”, lembra.

Concluída a licenciatura, seguiu-se o mestrado.“Tive sorte de no meu ano ter aberto, na FEUP, o mestrado de especialização em Estruturas Aeronáuticas e de Veículos, ao qual me candidatei e consegui entrar. As aulas eram bastante focadas em Aeronáutica – na parte estrutural, de design, da análise de stress -, que era, de facto, o que me interessava”, partilha Ana.

No caso de Mário, também enveredou por esta via. “Sempre gostei muito da parte de materiais e de Mecânica Aplicada. Portanto, quando comecei a ter Mecânica dos Sólidos e de Estruturas, pensei: ‘isto é a minha praia, é mesmo isto o que eu quero fazer’”, recorda o alumni. Chegado o momento de desenvolver o projeto de mestrado, Mário ruma para a Universidade Carlos III, em Madrid (Espanha), para investigar nas suas áreas de interesse, num projeto que combinou “aviões” e Mecânica Computacional.

Legenda: Mário Miranda na Universidade Carlos III, em junho de 2023.

“Quando uma aeronave cai no chão – seja por falha de um trem de aterragem ou algum outro fator -, quem manufatura o avião tem de saber como é que ele vai responder em caso de impacto. Então, no fundo, o que eu fiz na minha dissertação de mestrado foi desenvolver modelos de materiais que pudessem ser aplicados a aeronaves, cuja resposta à queda pudesse ser prevista e avaliada”, explica Mário.

No caso de Ana, o seu objetivo no mestrado foi desenvolver um projeto em contexto industrial, que acabou por acontecer na Continental Engineering Services, no Porto – ainda que na área de Veículos. “O que eu fiz foi uma análise e otimização do impacto de uma estrutura de proteção das baterias de um carro elétrico, atualmente disponível no mercado. Comecei por replicar o design da estrutura num software de CAD, depois com um software de FEM tentei otimizá-lo em parâmetros como o peso, resistência, entre outros”, comenta. “Sinto que aprendi muito com o trabalho em si, mas também com o que me rodeou, a ver o que os colegas estavam a trabalhar e esclarecendo as dúvidas que tinha. Gostei muito da experiência”.

 

A rampa de lançamento para o Espaço

Com o mestrado praticamente em fase de conclusão, a ponderação sobre o próximo passo voltou a assumir o papel principal. Porém, o que poderia constituir uma grande dúvida, para Ana e Mário, figurou-se uma certeza. “Depois de apresentar a tese, estava decidida de que queria ir trabalhar. Recebi uma proposta da FEUP para fazer o doutoramento, mas optei por não avançar com ela, porque sabia que queria ir para a indústria aeronáutica e ter uma experiência no estrangeiro”, partilha a alumni. “Essas eram as certezas que eu tinha. Se ia conseguir ou não, o tempo o diria”.

Para Mário, o futuro também se afigurava evidente – até porque preparou o próximo desafio com antecedência. “Eu sempre gostei muito de saber a raiz dos porquês. Somado a isto, no meu 4º ano do curso, tive a oportunidade de lecionar umas aulas de laboratório, e no 5º ano orientei projetos de estudantes da FEUP. Gostei tanto destas experiências que quis manter a ‘porta’ de lecionar na academia aberta”, explica. “Tudo isto me levou a concorrer ao doutoramento, ainda antes de acabar o mestrado. Portanto, eu já sabia qual seria o próximo passo”.

Juntando todas as convicções e ambições, Ana rumou para Papendrecht (Holanda), onde exerce funções como Associate Design Engineer na GKN Fokker Aerospace; e Mário foi para o Reino Unido, onde está a fazer o doutoramento no Imperial College London.

Legenda: Ana Pinheiro na GKN Fokker Aerospace, na Holanda.

“Na altura, candidatei-me para muitos trabalhos no estrangeiro, porque para começar era óbvio que as empresas iam preferir alguém que tivesse experiência. Assim, aumentaria a probabilidade de conseguir um trabalho na área”, partilha Ana. “Acabei por ficar na Holanda, onde já tinha estado anteriormente em viagem. O contacto que já tinha tido com o país, ainda que tivesse sido reduzido, assim como o feedback muito positivo que recebi de pessoas que estavam cá, levou a que ficasse muito entusiasmada”.

Para Mário, a experiência foi ligeiramente diferente. “Quando fui ao site do Imperial College, vi um projeto que achei bastante interessante. Mas tinha um senão: as candidaturas estavam abertas apenas para estudantes do Reino Unido”, recorda. “De qualquer forma, como eu gostava tanto do projeto, decidi enviar email aos orientadores para saber se havia alguma exceção àquela regra. Eles disseram que a vaga ainda não tinha sido ocupada e que iriam analisar a situação. Depois de umas questões burocráticas, o concurso foi aberto a alunos de todo o mundo e acabei por conseguir concorrer. Fiz a entrevista e entrei”.

Legenda: Mário Miranda, em julho de 2024, na ECCM21 (European Conference on Composite Materials), em Nantes (França).

O projeto de doutoramento de Mário consiste no desenvolvimento de estratégias para a construção de asas “de nova geração”, que são mais longas e finas. “Como não existem estratégias na indústria bem definidas para as fazer, no meu doutoramento estou a trabalhar na criação de uma estratégia de otimização estrutural para ser usada em fases iniciais do seu desenvolvimento”, partilha.

Sobre o trabalho de Ana, de momento é dedicado ao sistema de Arresting Gear do caça F-35, da GKN Fokker Aerospace. “Quando o F-35 precisa de desacelerar rapidamente – por exemplo, para aterrar numa plataforma marítima em que a passadeira é muito reduzida e, por isso, tem de diminuir a velocidade rapidamente -, esse sistema é usado. No fundo, este sistema complexo possui uma componente que é como um gancho. Assim, quando a aeronave se aproxima do chão, este gancho apanha um cabo de aço na plataforma, que a obriga a desacelerar rapidamente. E eu estou a trabalhar nesse sistema”, conta.

 

O futuro em perspetiva

Até ao momento, tanto Ana como Mário estão a realizar pelo menos uma parte do seu sonho. Quanto ao futuro, novas decisões terão de ser tomadas, mas com uma ponderação que só o passar do tempo poderá auxiliar. Ainda assim, já com algumas certezas esboçadas no horizonte.

“Sempre desejei ter uma experiência profissional como a que tenho agora. E estou vivê-la de momento. Gosto muito do que estou a fazer e sinto que ainda tenho muito para aprender”, aponta Ana. “Uma certeza eu tenho: gostaria de ficar pela área da Aeronáutica, a trabalhar com aviões civis e caças. De momento, estou mais na parte da defesa, mas há muito para explorar”, acrescenta.

Para Mário, ainda que de momento esteja na academia, a indústria também poderá ser uma possibilidade para o futuro. “Estaria a mentir se dissesse que não estou interessado em saber sobre processos industriais. Neste momento, estou a trabalhar em parceria com a Airbus e gostava de ver como é que se fazem lá as coisas, conhecer as fábricas e os centros de investigação deles”, afirma. “Mas acho que ainda é muito cedo para dizer o que é que eu realmente quero – se quero ficar na academia, ou se gostaria de seguir para a indústria”, conclui.