
Legenda: João Perre, alumnus de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América.
É um aventureiro e tem o “mundo” nos genes. A trabalhar na Goldman Sachs, nos Estados Unidos da América, João Perre estudou Engenharia e Gestão Industrial na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e conta com um percurso que o levou por países como Japão, Austrália, Suécia, Holanda e muitos outros. E tudo isto atrás de um sonho. Ainda que com um oceano a separar-nos, a longa distância rapidamente se encurtou, para que pudéssemos chegar ao declarado amante de desporto e sabermos mais sobre si e os passos que tem firmado na sua área de formação.
O início de tudo
Se regressarmos às suas primeiras paixões, é inevitável falar sobre Finanças e Economia. Desde cedo, filmes como Wall Street, de Oliver Stone, e Inside Job, de Charles Ferguson, povoaram o seu imaginário, tendo deixado nele uma “semente” que mais tarde viria a ganhar forma. “Desde criança, lembro-me de ver esses filmes – ou outros relacionados com este tópico – e ficar extremamente cativado. Outras coisas não me cativaram tanto, mas isto cativava-me bastante”, partilha o alumnus. Um fascínio que começava a moldar-lhe o gosto.
“Recordo-me que durante a crise de 2007 saíram filmes a explicar o que estava a acontecer, e, na altura, lembro-me de ter visto muita coisa sobre isso. Apesar de não perceber a maior parte do que era abordado – porque ainda era muito novo e não tinha os conceitos-base -, não sei porquê, tudo aquilo me atraía bastante. Lembro-me de pensar: ‘Wow, isto é espetacular! Estes tipos gerem o mundo, movem o dinheiro de um lado para o outro, fazem tudo girar. Quem são eles, o que estão a fazer, e como é que isto é possível?”, conta.
Mas nem tudo foi uma “certeza” sempre. O então aluno do Colégio de Nossa Senhora do Rosário, uma escola que integra a rede CAMPUS FEUP, começou por frequentar a área de Ciências Económicas no Ensino Secundário, quando se apercebeu de que o caminho poderia não passar diretamente pela área que estudava. “No 11º ano, percebi que queria seguir algo que me permitisse um trabalho mais quantitativo, porque sempre gostei muito de matemática e de números”, lembra. “Senti que com o curso de Economia ficaria de alguma forma mais limitado, uma vez que não seria um curso tão abrangente quanto gostaria”.
E eis que surge a Engenharia como alternativa. “Percebi que com um curso assim, ligado às áreas de que gosto, seria uma forma de manter o máximo de portas possível abertas – no fundo, abriria muitas sem fechar nenhumas, porque não há um trabalho que um economista faça que um engenheiro não possa fazer”, argumenta João Perre. “Como não tinha Físico-Química, tive de preparar-me para o exame, para poder entrar em Engenharia. Foi um esforço extra para conseguir seguir este caminho, mas compensou”, partilha.
Legenda: João Perre na FEUP, após a defesa da dissertação de mestrado.
Em 2013, ingressa na FEUP, dando início a uma fase da sua vida que se revelou repleta de experiências marcantes. “Eu queria estar numa escola de topo, e, em particular, no curso de Engenharia e Gestão Industrial na FEUP, que era o que mais se adequava aos meus interesses, para além de ter uma reputação muito alta. A escolha foi relativamente fácil”, comenta o alumnus. “Quando entrei, a adaptação foi bastante desafiante, pela quantidade de informação que passei a ter de acompanhar. Nos primeiros tempos, estava um bocado mais receoso sobre como iria correr esta nova fase, e, por isso, tentei concentrar-me mais no estudo e gerir todo o trabalho que tinha de fazer. Passada a primeira fase de frequências, que correu bem e tive boas notas, percebi como poderia gerir o tempo e o trabalho”.
Conhecer mais para traçar um percurso
Primeira “prova de fogo” superada, estavam reunidas as condições para começar a explorar o “novo mundo”. O estudante de Engenharia e Gestão Industrial integrou a Tuna de Engenharia da Universidade do Porto (TEUP) e a European Students of Industrial Engineering and Management (ESTIEM), vivendo experiências que descreveu como “muito boas”. “A propósito da ESTIEM, percebi que não era assim tão difícil viajar para fora. Uma vez que nunca tinha tido esta experiência sozinho, comecei a aventurar-me mais neste campo, participando em algumas conferências e em programas de mobilidade”. Esteve na Universidade de Lund (Suécia), na Universidade de Taiwan e na Universidade de Nova Gales do Sul (Austrália).
Legenda: João Perre na Tuna de Engenharia da Universidade do Porto.
“Tentei sempre ter a abertura para explorar as oportunidades que o curso me ia dando, através das disciplinas e fora delas. Sempre com o objetivo de ir abrindo diferentes portas e perceber os diferentes rumos que o meu percurso poderia tomar”, aponta. Às “aventuras” no estrangeiro, foi somando experiências em estágios extracurriculares, que assumiu terem sido essenciais para perceber as áreas do seu interesse.
“Fiz um estágio de curta duração na Schmitt Elevadores, que me permitiu ter uma ideia do que se faz numa área mais ligada à Engenharia Mecânica. Depois, como gostava muito de Finanças, decidi apostar mais nesta área. Seguiu-se um estágio no BPI, relacionado com Investment Banking, em que confirmei que gostava mesmo desta área financeira e quantitativa”. Convicção que saiu reforçada no último estágio extracurricular que fez, na Oxy Capital: “percebi que tinha um interesse em trabalhar na parte dos modelos de natureza mais quantitativa, de trading”. E assim foi.
Concluído o mestrado, direcionado para a área de machine learning, João candidata-se ao programa Vulcanus, que acabara por lhe proporcionar 5 anos no Japão. “Com este programa, tive uma experiência inicial de 12 meses, 8 deles de estágio. No fim, surgiu a possibilidade de integrar os quadros da empresa”, lembra João. Falamos da Goldman Sachs, um banco americano de investimento global fundado em 1869.
“A equipa que integrei – e onde me encontro – é global e está distribuída por Nova Iorque, Londres e Tóquio. Então, como ia ser a primeira pessoa em Tóquio, comecei por estar 3 meses em Londres, para conhecer a equipa, os modelos-base e outras coisas. Voltei a Tóquio em janeiro de 2020 para começar o trabalho a tempo integral”.
Legenda: João Perre na Goldman Sachs, em Tóquio (Japão).
Em 2023, o contexto muda ligeiramente. “Ofereceram-me a possibilidade de me transferir para Nova Iorque. Algumas pessoas tinham o sonho de ir para lá, mas no meu caso achava que seria difícil conseguir isso”, recorda. “Eu nunca tinha ido à América e a empresa permitiu que fosse conhecer Nova Iorque, antes de mudar. Estive lá duas semanas, e, logo no segundo dia, pensei: ‘isto é excelente, quero estar aqui’”, lembra de sorriso no rosto.
Mas o que o levou a esta rápida decisão? “Essencialmente a possibilidade de trabalhar no ‘centro do mundo’ no que diz respeito à área das finanças: Wall Street. E isso percebeu-se logo com algumas conversas que tive com pessoas no escritório, de que estava onde tudo estava a acontecer, o centro de decisão e a raiz máxima do mundo financeiro”, explica João Perre, que está há quase dois anos a viver o seu “sonho”.
Próximos passos
E por falar em sonhos, é inevitável abordar os do alumnus – e fazê-lo numa lógica de perspetivar o futuro. “De momento, sinto-me bastante satisfeito com esta área e gostava de ‘escalar’ ainda mais dentro do que posso vir a fazer. A nível de geografia, para já, estou contente com Nova Iorque, mas não implica que não vá explorar outros sítios”, reflete.
Questionado sobre conselhos para os estudantes que estejam a descobrir o seu futuro académico e profissional, João avança com o remate final: “se o estudante tiver alguma paixão, eu dira que o importante é segui-la e ir a fundo. Isso significa procurar coisas na internet e tentar falar com pessoas dessa área. Se não tiver uma paixão em específico, sugeria que fizesse um bocado como eu fiz: tentar explorar ao máximo diferentes áreas, ser abrangente nessa exploração, não ficar à espera que as coisas aconteçam, mas sim tentar construir o seu próprio percurso”.