
Legenda: Equipa do Clube de Robótica e Programação da Escola Secundária de Penafiel que alcançou o primeiro lugar, na respetiva categoria, num concurso promovido pela Direção-Geral de Educação. Dois dos projetos concorrentes estão em destaque na fotografia.
A paixão pela programação e a criação de sistemas robotizados é o que os une. E foi exatamente essa a força que levou alunos e professores a alcançar um lugar no pódio de um concurso nas áreas em que atuam. Trata-se do Clube de Robótica e Programação da Escola Secundária de Penafiel, que pertence à rede CAMPUS FEUP. Quisemos saber mais sobre este grupo que conta com 3 anos de história, conhecer os seus elementos e respetivas motivações. Para isto, não identificámos melhor altura para o fazer: os Dias das Ciências e das Tecnologias, uma iniciativa que decorreu de 26 a 28 de fevereiro e que envolveu toda a comunidade escolar em torno destas temáticas.
De uma paixão a um “clube”
É dia 28 de fevereiro e o fim da manhã é marcado pelo sol em Penafiel. Chegámos à escola e fomos agradavelmente recebidos pelo professor Miguel Carneiro, que leciona disciplinas de Informática e foi o impulsionador da criação do Clube de Robótica e Programação. Sente-se o alvoroço nos corredores. Há alunos por todo o lado, conversas impercetíveis que se fazem ecoar nos espaços. Somos conduzidos pelas instalações, fazendo paragens em sítios-chave da escola, como a biblioteca, a sala dos professores e os espaços comuns para os alunos. Mas é dos laboratórios que vem a azáfama maior.
Em jeito de visita “turística”, entrámos e saímos de alguns daqueles espaços. Entre exposições várias, mostras de minerais e demonstrações de reações químicas, a curiosidade era grande e fomos interagindo com grupos de alunos que se aglomeravam junto das bancadas dos laboratórios. Uns a dinamizar atividades, outros a assistir – uma verdadeira mostra de Ciência. Caminhamos ao encontro da professora Sílvia Machado, docente de Físico-Química e responsável pelo Departamento de Matemática e Ciências Experimentais, que nos cumprimentou com entusiasmo.
Legenda: Registos dos Dias das Ciências e das Tecnologias da Escola Secundária de Penafiel.
A partir daí, a “excursão” pela escola é complementada pela explicação dos seus projetos, sendo um deles o ESPCiência, o Clube Ciência Viva da Escola Secundária de Penafiel, nascido em 2022. “A Ciência Viva abriu, nesse ano, um concurso e surgiu a oportunidade de nos candidatarmos. Eu, a professora Natália Oliveira e a professora Sandra Bugalho, refletimos sobre isso e decidimos avançar com um projeto. Delineamos os seus moldes, fizemos a candidatura e ganhamos”, partilha Sílvia. E assim nasceu esta iniciativa.
“O Clube abrange alunos do 7º ao 12º ano em projetos de diferentes tipologias. Por um lado, temos ‘mini Clubes’, desenvolvidos a nível extracurricular, de que fazem parte cerca de 15 ou 20 elementos, número que normalmente não é ultrapassado, porque os laboratórios e restantes recursos são limitados. Por outro lado, temos outros projetos que são alargados às turmas e desenvolvidos em sala de aula. Neste caso, todos os alunos dessas turmas são mobilizados para as atividades, envolvendo diferentes disciplinas, transversais a todos os anos de escolaridade”, explica a docente.
Um exemplo de “mini Clube” é precisamente o Clube de Robótica e Programação, como nos explica o professor Miguel. “Este clube nasceu de um convite por parte do Clube da Ciência. Com a união de esforços entre as professoras Sílvia Machado, Isabel Silva e eu, este projeto surgiu da vontade de termos um espaço para além da sala de aula onde pudéssemos ter alunos a partilhar projetos e ideias”, afirma. “É essencialmente um espaço de partilha, que incentiva os alunos a desenvolverem competências para além das que adquirem de uma forma mais tradicional em sala de aula”.
Legenda: Alunos do Clube de Robótica e Programação da Escola Secundária de Penafiel.
“O Clube de Robótica está aberto a qualquer aluno da escola, de qualquer nível de ensino, e neste momento conta com cerca de 10 alunos, de anos de escolaridade como 8º, 9º, 10º e 12º. A ideia não é que o clube tenha alunos em quantidade – caso contrário, tornar-se-ia uma ‘sala de aula’ -, mas sim que inclua os que têm muito interesse nestes projetos e que queiram desenvolvê-los. Por isso, a adesão que nós temos ao clube é aquela à qual o clube consegue dar resposta”, explica o docente.
Mas como surgem as ideias para os projetos e como são definidas as equipas para o seu desenvolvimento? “Nas primeiras semanas do ano letivo, os elementos do clube encontram-se no seu espaço para uma ou mais reuniões em que cada aluno apresenta as suas ideias e os professores trazem sugestões de projetos. E é dessa partilha que os projetos começam a nascer e a ser desenvolvidos”, avança Miguel Carneiro. “O mais importante não é o produto final, mas o caminho que nos leva até lá”.
Todas as semanas, os alunos encontram-se na sala do Clube para explorarem e trabalharem em diferentes ferramentas essenciais para a materialização das suas ideias. E as aprendizagens surgem desse processo. É o que nos conta Maria Clara Carvalho, aluna de 9º ano. “Tenho aprendido muito com estes projetos. Hoje, sei mais sobre placas de Arduino, fios e as suas conexões, alguns elementos que se usam neste tipo de projetos, como sensores ultrassónicos, de movimento, de humidade e temperatura. E agora estamos a aprender a programar em C”, avança a aluna.
“Eu entrei no Clube de Robótica em dezembro do ano passado. Dois amigos meus falaram-me deste projeto, tive interesse e entrei. Desde aí, gosto muito de cá estar, das pessoas, e os temas são muito interessantes para mim, porque gosto muito de robótica e de programação”, explica. E gestão do tempo?, perguntámos. “Acho que a maior parte das pessoas consegue gerir bem, porque nos ocupa só uma tarde da semana e é fácil de conciliar tudo o que temos para fazer nesse tempo. No meu caso, ainda tenho música e piscina, mas consigo organizar-me bem”.
Uma parceria e um prémio
Enquanto vamos falando com os docentes e os alunos, os olhares atentos dos presentes fazem-se notar. A conversa vai fluindo e as descobertas também. Recuámos agora no tempo, para revisitarmos a origem da parceria entre a escola e a FEUP. Decorria o segundo ano desde a criação da rede CAMPUS FEUP. “Estávamos a desenvolver os nossos trabalhos e vimos na ligação com a FEUP uma janela de oportunidade para aprofundarmos os nossos conhecimentos. Foi a partir deste contacto que chegámos à Porto Space Team [um grupo de estudantes da FEUP que atua na área da engenharia aeroespacial], de que faziam parte elementos que tinham frequentado a nossa escola”, introduz Miguel Carneiro.
“Na altura, a equipa de estudantes da FEUP veio até cá e esteve a discutir connosco alguns projetos e ideias, mas sobretudo ferramentas para trazer para o clube, com as quais trabalhamos com os alunos”, recorda o docente. Esta troca de ideias potenciou não só o desenvolvimento dos projetos do Clube, mas também contribuiu para o resultado que obteve no Concurso de Programação e Robótica, promovido pela Direção-Geral de Educação.
Legenda: Sílvia Machado e Miguel Carneiro no II Encontro da Rede Campus FEUP, a apresentarem os projetos do Clube de Robótica e Programação da Escola Secundária de Penafiel.
A Escola Secundária de Penafiel alcança então o primeiro lugar na Categoria 3 – Tema livre -, no Nível Júniores. “Recebermos este prémio foi muito gratificante, principalmente – e sobretudo – pelos alunos, pelo trabalho que eles desenvolveram”, comenta Miguel Carneiro. “Muitas vezes nós olhamos para o trabalho que eles fazem e reconhecemo-lo, mas é também importante poderem receber esse reconhecimento externo. Com esta experiência, os alunos puderam saber como é participar num concurso, bem como toda a logística envolvida”.
Este resultado viria a saber-se pouco tempo depois do II Encontro da Rede CAMPUS FEUP, em maio de 2024, cujo mote foi “A colaboração entre o Ensino Pré-Universitário e o Ensino Superior na formação de futuros(as) Engenheiros(as)”. Neste encontro, Miguel Carneiro e Sílvia Machado integraram o painel de oradores, para darem a conhecer o Clube de Robótica e Programação. “Este momento foi muito importante porque tivemos oportunidade de contactar com colegas de outras escolas, ver outros projetos e mostrar o nosso – sobretudo ter um feedback daquilo que é feito e daquilo que estamos a fazer em termos de projetos foi muito importante”, comenta o docente de Informática.
“Cozinhar” o futuro em ideias
Ao conversar com os alunos, é notório o entusiasmo com que falam do Clube e dos trabalhos que têm desenvolvido. Um dos casos é o de Diogo Carvalho, de 9º ano, que foi o primeiro elemento a integrar o Clube. “Soube deste grupo através da minha professora de Físico-Química. Na primária, ainda que muito pouco, eu já tinha mexido com robôs. E como gostei muito dessa experiência, vim para o clube”. Mas esta é uma participação que tem ambições maiores. “Eu gosto muito da área da agricultura, porque cresci com o meu avô que fazia trabalhos no campo. Isto faz-me querer utilizar a robótica para desenvolver projetos que permitam otimizar a agricultura. E aqui tenho aprendido muito, desde programar em bloco e em C, montar circuitos e sistemas novos, e a desenhar em 3D”, partilha.
Do outro lado da sala, ouvimos Leonor Lisboa, também do 9º ano: “Sabia que foi o Diogo que nos trouxe a quase todos para aqui?”. Irrompe uma gargalhada na sala, confirmando esta afirmação. “Da minha parte, o Clube tem sido uma boa experiência. Já me permitiu colaborar em diferentes projetos e estou certa de que vou para Ciências e Tecnologias. Isto fez com que a minha paixão pela programação e pela robótica crescessem, e à medida que o tempo tem passado, tem aumentado a minha batalha interna entre seguir Medicina ou Engenharia”.
Já Francisco Rocha, que está no 12º ano e integra o Clube há dois anos, ouviu sobre o grupo de Robótica e Programação a propósito de um projeto que um amigo desenvolveu. ”O professor foi-me falando mais sobre esse projeto e o clube, e apercebi-me de que gostava desta área. Desde aí, estou cá”, lembra. “Eu podia dizer que nestes dois anos o mais importante foi aprender sobre Fusion, mas, para ser sincero, o mais importante foi ter perdido o medo de experimentar. Eu não sabia nada, e se eu não tivesse experimentado e não me tivesse dedicado, não conseguia fazer a maior parte destes projetos”. Do outro lado da sala, ouve-se o professor Miguel a dizer: “Ele está a trabalhar com Fusion 360, que foi uma das ferramentas que a Porto Space Team nos mostrou”. Ao que Francisco assente, esboça um sorriso e remata: “É verdade, professor”.
Tiago Preto está no 10º ano e é um membro relativamente recente do clube. “Entrei no ano passado e tenho aprendido muito sobre programação e a fazer desenho em 3D – está a ajudar-me a perceber o que gostava de fazer no futuro”. Mas esta “paixão” vai mais longe. “Eu em casa também faço outras atividades, relacionadas com alta tensão”. É aqui que interrompemos o aluno e partilhamos que na faculdade temos uma infraestrutura baseada naquele conceito. Ao que o aluno pergunta: “o Laboratório de Alta Tensão?”. Sorrimos pela resposta inesperada. Era isso mesmo. “Conheci esse laboratório na Universidade Júnior. Foi muito bom ter ido à FEUP, porque conheci muitas pessoas, uma das quais me fez envolver nestes projetos e me fez perceber que é isto o que eu quero fazer”. Futuro? “Talvez seguir Engenharia Eletrotécnica ou até mesmo Engenharia Aeroespacial, mas ainda tenho tempo para decidir”.
Em jeito de conclusão, retomamos os “comandos” do Clube, desta vez, com o olhar direcionado para o futuro. Miguel Carneiro avança com a sua visão: “Pretendemos manter esta dinâmica ativa, em que pelo menos uma vez por semana os alunos tenham um espaço onde possam desenvolver projetos e continuar o desafio de criar em áreas STEM [Science, Technology, Engineering and Matemática]. A grande ambição é manter, e até crescer, o número de alunos, na medida do razoável para um clube deste tipo, e o número de participações em projetos externos à escola”.