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Imagem: Afonso Nunes e Isabel Pereira, estudantes de Bioengenharia e Engenharia e Gestão Industrial, na FEUP.

A escolha de um curso pode revelar-se uma tarefa morosa. Pelo menos é esta a perceção partilhada por Afonso Nunes e Isabel Pereira. Ambos são estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP): Afonso em Bioengenharia e Isabel no curso de Engenharia e Gestão Industrial. Mas o seu percurso até aqui vai muito além da decisão sobre o curso que escolheram. Com a curiosidade de sabermos mais sobre eles, reunimos com os dois para conhecermos quem são, como foi o seu percurso académico, o que esteve na base das suas escolhas, e como estão a projetar o seu futuro. Foi uma conversa de uma hora em que o entusiasmo da partilha motivou a recuperação de memórias que dizem “nunca mais esquecer”. 

Um início CAMPUS FEUP

Pessoas diferentes, cursos diferentes. Uma origem em comum: uma Escola CAMPUS FEUP. Muitas lembranças tomam lugar nesse espaço, e inúmeras são as recordações desse período. Entre a escola e as atividades extracurriculares, a formação académica e pessoal dos dois circunscreve-se a um sem número de experiências. 

Afonso estudou no Colégio Luso-Francês (Porto), e diz-se apaixonado por videojogos. “São o meu escape”. Praticante de ténis durante 15 anos, do Colégio recorda o “ambiente acolhedor, onde se vivia um espírito de comunidade”. “Senti-me tão bem vindo que, para mim, foi um período muito bom, mesmo quando houve algumas dificuldades”, partilha. 

Já Isabel, frequentou a Escola Secundária Garcia de Orta, no Porto, que considera ter sido um importante alicerce na sua formação. “Foi uma escola que sempre me acompanhou e ajudou bastante no meu crescimento pessoal e social, por tudo o que lá vivi e pela diversidade que lá encontrei”. De horário preenchido, o seu tempo dividia-se entre a “terra e a água” – ou não fosse a natação a sua grande paixão. “Esse foi o projeto que me acompanhou durante todo o meu percurso escolar”, conta. Uma paixão que começou aos 6 anos de idade. 

Isabel foi nadadora federada durante 13 anos e considera que o desporto foi uma base importante para o desenvolvimento de um conjunto de competências essenciais na sua formação. “A natação ajudou-me a crescer, a saber limitar e a organizar o meu tempo, a andar sempre em cima da linha e a não perder o rasto às coisas”, expõe. “Os valores que me foram transmitidos ajudaram-me muito no meu percurso escolar”, acrescenta.

Entre o ténis, os videojogos e a escola, Afonso destaca um projeto muito importante, a nível pessoal e académico: o SpiderBacH2. Este trabalho nasceu no Colégio Luso-Francês e consistiu na criação de um mecanismo de produção de seda de teia de aranha a partir de uma bactéria marinha. 

“O SpiderBacH2 foi a melhor coisa que me poderia ter acontecido no 12º ano. Desde a experiência de começar a investigar, passando pela componente laboratorial e pela apresentação do projeto ao público ou a um júri especializado. Foram muitos meses de trabalho, mas foi incrível”, comenta. “E vamos dar continuidade à ideia – o que é bom e eu estou bastante entusiasmado com o que aí vem”, adianta.

Imagem: Equipa vencedora da final europeia do EUCYS’23, da qual fazem parte Afonso Nunes e a Professora Rita Rocha, do Colégio Luso-Francês (lusofrances.pt).

O projeto SpiderBacH2 alcançou, em 2023, o primeiro prémio do concurso Jovens Cientistas e Investigadores e venceu a final europeia do concurso EUCYS (European Union Contest for Young Scientists).

Engenharia: o vislumbre de uma vocação

A conversa continua. Desta vez, para percebermos como surgiu a Engenharia na vida dos dois estudantes e explorarmos o processo que os levou à decisão do curso. As respostas surgiram prontas, ainda que alternadas com momentos de reflexão sobre as perguntas que lhes colocámos.

Para Isabel, foi no 10º ano que começou a pensar sobre o seu futuro académico. Esse foi o momento em que diz ter “ligado o interruptor”. Durante o Ensino Secundário, a área da Biologia foi um dos seus primeiros interesses, nomeadamente a sua aplicação à “vida real, e, em concreto, aos seres humanos”. Ponderou seguir Medicina, mas rapidamente concluiu que esse talvez não fosse o caminho. “É aqui que penso numa área que está – e sempre esteve – em crescimento exponencial: a Engenharia”, partilha.

No caso de Afonso, muito por conta do gosto que nutre pelos videojogos, Engenharia Informática sempre foi uma possibilidade. Pelo menos desde o 2º Ciclo do Ensino Básico. Com o passar do tempo, esta convicção parece ter ganho outros contornos. “No Secundário, descobri uma coisa chamada Biologia, e as minhas ideias começaram a mudar um bocado”, aponta. “A certa altura, um amigo meu perguntou-me: ‘Porque é que não ponderas o curso de Bioengenharia?’. Fui ver as cadeiras e reparei que tinha muitas que me interessavam. A partir daí, surgiu uma indecisão que durou os próximos anos”.

Questionados sobre se teriam visitado a FEUP durante o Ensino Secundário, num impulso entusiasta, a resposta é proferida (quase) em uníssono: “na Sessão Indecisos”. Uma gargalhada ecoa na sala. Tanto para Afonso como para Isabel, este foi um momento importante no seu processo de decisão. 

Imagem: Sessão Indecisos  – “FEUP – um mundo à tua espera” (edição de 2023).

Quando Isabel participou na Sessão Indecisos, estava na dúvida entre três cursos: Bioengenharia, Engenharia Mecânica e Engenharia e Gestão Industrial. “A sessão ajudou-me a fazer uma triagem. Percebi que o futuro passaria por Engenharia Mecânica ou Engenharia e Gestão Industrial”, admite. 

“A atividade deu-me uma contextualização muito importante. Pode parecer que não, mas entrar nos auditórios, onde normalmente se tem aulas, faz-nos entrar num outro ‘mundo’. Acho que isso me ajudou a familiarizar com o que é a FEUP. Lá estão mesmo os docentes que realmente dão as cadeiras. É tudo muito mais real e com uma aplicação direta. Posso dizer que uma grande percentagem da minha decisão foi influenciada por essa sessão”, confessa Isabel. 

Para Afonso, que estava dividido entre Informática e Bioengenharia, a Sessão Indecisos foi importante. “Toda a informação que nós encontramos lá permite-nos, sem dúvida, tomar uma decisão mais informada. A mim, pelo menos, ajudou-me a ter uma melhor noção de como é o curso de Bioengenharia”, refere. “Na altura, lembro-me que o orador estava a dizer alguns dos objetivos da Bioengenharia e eu estava a pensar: ‘uau…é isto!’”, conta. O último fator decisivo deu-se quando ganhou o EUCYS. “Nesse momento, tive mesmo a certeza do curso que queria seguir”, conclui.

Curso escolhido. Seguiu-se o próximo passo: a candidatura ao Ensino Superior. Tendo em conta as médias do ano passado das Engenharias “preferidas”, Afonso e Isabel estavam relativamente tranquilos quanto ao resultado da candidatura. “Só mesmo se acontecesse algo fora do expectável é que não conseguiria entrar”, comenta a estudante de sorriso no rosto. 

E assim foi: em 2023, ingressam naquela que viriam a considerar a sua “segunda casa”. “Lembro-me de quando fizemos uma visita guiada à faculdade, a propósito do Orienta-te!. Foi aí que me apercebi de que a FEUP é um mundo, gigante”, atira Afonso. Ouvindo isto, Isabel riposta de imediato: “Um mundo? Não. Uma galáxia!”. Irrompe uma nova gargalhada na sala. 

O futuro em perspetiva

De momento, Afonso e Isabel traçam o seu caminho de forma ponderada. Por um lado, Afonso pretende “fazer um percurso com calma e serenidade”, explorando os seus gostos através da participação em atividades extracurriculares. “Este ano quero focar-me em entrar nos e-Sports da AEFEUP. Depois, nos próximos anos, vamos ver como correm e que oportunidades surgem”, refere.

No caso de Isabel, o início do ano serviu também para integrar a AGE-i-FEUP, a Associação de Estudantes do curso de Engenharia e Gestão Industrial. “Eu candidatei-me à Associação muito por conta de um conselho que me deram, para me inscrever em núcleos e associações. Isto porque seria uma experiência altamente enriquecedora. Neste caso, aproveitando estas oportunidades desde o primeiro ano, sinto que será muito benéfico, pois permitem-me complementar a minha experiência académica na faculdade”, afirma.

E em relação ao futuro, algum prognóstico? A médio prazo, Afonso tem em mente dois objetivos: um ligado à área da investigação e outro relacionado com videojogos. “Dentro da investigação, gostaria de continuar com o meu projeto relacionado com a teia de aranha, em engenharia regenerativa. Ou então experimentar algo diferente, como ajudar pessoas com imunodeficiência primária”, partilha. “A outra ambição tem a ver com criar alguma conexão com o universo dos e-Sports, outra minha paixão”, completa.

Já Isabel projeta um futuro relacionado com a área da consultadoria. “Gostava de poder conciliar a Engenharia e a Gestão em contexto empresarial, ligado à gestão de cadeias de investimento”, remata.